São Paulo, terça-feira, 4 de janeiro de 1994
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Rebelião de indígenas no México faz 100 mortos

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Pelo menos cem pessoas morreram nos combates entre soldados mexicanos e cerca de 600 militantes do grupo guerrilheiro Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), que no último dia 1.º lançaram uma ofensiva no Estado de Chiapas, no sudeste do país. No terceiro dia da ofensiva, os revoltosos sequestraram um ex-governador de Chiapas. O governo do México se disse disposto a negociar uma trégua. Até a noite de ontem, o EZLN não havia respondido à oferta.
O EZLN declarou guerra ao governo mexicano e ao Nafta (Acordo Norte-Americano de Livre Comércio, assinado por EUA, México e Canadá), que entrou em vigor no dia 1.º.
Para os guerrilheiros, a maioria índios, o tratado, que elimina barreiras protecionistas entre os três países, significa "entregar o México aos estrangeiros" e é a "sentença de morte para os povos indígenas do país". Eles exigem também reforma agrária e a deposição do presidente Carlos Salinas de Gortari.
O ministro do Desenvolvimento Social do México, Carlos Rojas Gutierrez, pediu ontem a mediação de organizações civis e de sacerdotes católicos e protestantes para contornar a crise no sudeste do país. Três bispos católicos da região se ofereceram para participar das negociações. O porta-voz Rafael González disse que o governo de Chiapas está disposto a dialogar com os rebeldes.
As informações sobre vítimas variam. O Exército diz que 30 pessoas (6 soldados e 24 guerrilheiros) morreram anteontem e que outras 27 pessoas foram mortas no dia 1.º. Gutierrez acrescenta a estes números 26 policiais militares mortos nos três últimos dias. A imprensa mexicana, com base em relatos de testemunhas, calcula que o total de mortos passa de 100.
Pelo menos quatro civis morreram nos ataques. "Tememos que o número de civis mortos seja bem maior", disse González.
Os mais duros combates registrados ontem ocorreram em Ocosingo, uma das cinco cidades ocupadas pelos rebeldes desde sábado. De acordo com funcionários do governo, o Exército estava ganhando terreno em Ocosingo e havia tomado por completo a cidade de San Cristóbal de las Casas, segunda mais importante do Estado e foco principal da rebelião.
Cerca de 40 guerrilheiros sequestraram Absalón Castellanos Domínguez, governador de Chiapas de 1982 a 1988, seu irmão e sua cunhada. Até a tarde de ontem, os rebeldes não haviam feito qualquer exigência para libertá-los. Castellanos é acusado pela população local de violações dos direitos humanos dos índios durante seu governo. As autoridades temem que ele tenha sido morto.

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