São Paulo, terça-feira, 4 de janeiro de 1994
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Siglas

MARCELO BERABA

SÃO PAULO – Os partidos estiveram alheios aos dois principais movimentos políticos de 93: o que envolveu a classe média na campanha contra a fome e pela cidadania e o processo de depuração que acontece no Congresso com a CPI do Orçamento.
A Ação contra a Fome, assim como o recém-criado Viva Rio, são experiências que brotaram e estão se desenvolvendo às margens das organizações partidárias.
O que está acontecendo no Congresso é ainda mais incrível. Nenhum partido enquanto tal está totalmente comprometido em assegurar o pleno funcionamento da CPI. Seja porque têm nomes suspeitos ou comprovadamente envolvidos nos esquemas de corrupção; seja porque estão com as suas atenções voltadas para as eleições de outubro; seja porque já não existem como partidos políticos, a verdade é que estão ausentes e o esforço que vem sendo feito para garantir a continuidade da CPI deve ser debitado a alguns poucos parlamentares.
Este alheamento é bom ou ruim? O crescimento dos movimentos sociais é bom para o país, um indicador reconhecido de amadurecimento político. O processo de depuração no Legislativo, idem. Quanto à ausência dos partidos, era previsível.
Logo após o impeachment de Collor foi formado o consenso de que a crise do país era mais política do que econômica. O que se esperava dos partidos, portanto, era que liderassem uma ampla reforma partidária e eleitoral. Isso não aconteceu. A reforma política necessária para criar condições de governabilidade e de segurança política ficou pela metade.
A chance que têm agora é a incerta Revisão Constitucional. As maiores resistências à grande reforma política que o país reclama estão dentro do Congresso. E os partidos, mesmo os comprometidos programaticamente com estas reformas, são incapazes para sensibilizar e mobilizar seus representantes no Congresso.
A eleição de outubro é o melhor instrumento que os cidadãos têm para fazer sua própria depuração. Mal ou bem, o país caminha enquanto os partidos desmoronam. São, mais do que em qualquer outro tempo, apenas siglas.

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