São Paulo, terça-feira, 4 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Memorando

SÉRGIO AUGUSTO

RIO DE JANEIRO – Se, salvo para os seus amigos e familiares, a morte do aposentado ator Cesar Romero não tem a menor importância, por que diabos a trago para o "lead" de uma coluna que versa sobre o Rio? Digamos que eu não esteja disposto a ruminar sobre todas as mazelas e omissões que fizeram, merecidamente, de outro César o alcaide com o mais baixo Ibope do país. Em matéria de canastrão, ainda prefiro Romero, que além de inofensivo fora da tela parecia gostar mais sinceramente desta cidade que o seu atual prefeito.
Ademais, a simples lembrança de Romero, que pela primeira vez nos visitou em 1946, nos remete a um Rio transbordante de glamour e mansidão, que há muito deixou de existir. Um Rio que eu mesmo, burro velho, só em parte pude curtir. Ao dos anos 40, por exemplo, a tenra idade não me permitiu dar a devida atenção. Peguei ecos, só isto, da passagem por aqui não só de Romero, mas também de Bing Crosby, Orson Welles, Walt Disney, Douglas Fairbanks Jr., Henry Fonda, Errol Flynn, Bob Hope, Tyrone Power. Com a guerra na Europa, só Havana disputava com o Rio a primazia de substituir as delícias da Riviera.
Mesmo fora do Carnaval, as estrelas de Hollywood aqui vinham à cata de prazeres então ainda mais escassos na América. Nem o fim dos cassinos, decretado pelo general Dutra, conseguiu afastar do Rio a fina flor do "show business" internacional. A década de 50, que peguei já grandote, também foi um desfilar constante de ídolos da tela e da canção. Certa noite, até Howard Keel e Kathryn Grayson, o mais prestigiado casal de rouxinóis da Metro, duetaram ao vivo num cinema carioca o tema romântico de "O Barco das Ilusões". Esses eu vi; mas Ava Gardner, infelizmente, nem de longe.
Daqui a dias fará meio século que o hotel Quitandinha foi parcialmente inaugurado com um espetáculo de gala, "Vogue 44", para o qual contrataram três orquestras e uma plêiade de astros internacionais do porte de Yma Sumac, Madeleine Rosay, Margo Dowling e Gloria Thomas. Eis um evento mundano e artístico que a nossa memória não pode deixar de reverenciar. Parte da melhor história do Rio foi vivida no Quitandinha. A ele, pois, o que começou sendo de Cesar Romero.

Texto Anterior: As estrelas sobem
Próximo Texto: A guerra dos calendários
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.