São Paulo, quinta-feira, 6 de janeiro de 1994
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Mortos são incluídos em saque de US$ 7,5 mi

EDUARDO BELO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em outubro de 1992 a Justiça Federal do Rio de Janeiro liberou cerca de 4.000 contas bloqueadas de Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) de servidores da Escola Paulista de Medicina (EPM), órgão federal ligado ao Ministério da Educação.
Valor total da operação: Cr$ 52 bilhões da época (ou US$ 7,46 milhões). Há ind cíos de irregularidades no processo, que tramitou na 8.ª Vara Federal do Rio.
A Associação dos Funcionários da Escola Paulista de Medicina (Afepam), autora da ação, não tinha procuração para representar os servidores. Mais da metade deles não era filiada à entidade –e portanto não poderia ser representada por ela. A Justiça chegou a determinar que fossem anexadas as procurações ao processo, depois de concedida a liminar.
Mortos
Pelo menos duas pessoas já estavam mortas quando correu o processo. Um dos servidores, morreu um ano antes do saque, em 20 de outubro de 1991. A Caixa Econômica Federal liberou vários lotes de pagamento entre outubro de 1992 e março de 1993.
O dinheiro não foi repassado de imediato aos titulares das contas, segundo o então tesoureiro da Afepam, Fernando de Assis. O atraso no repasse provocou prejuízo de no mínimo 0,8% ao dia para os servidores. Essa era a taxa de inflação da época, que corresponde a 26% ao mês.
A entidade também não abriu conta corrente específica para a operação, segundo Assis. Ele diz que foi alijado do processo, controlado pelo presidente da Afepam, José Mauro Cassimiro, e pela vice, Edna Aparecida Paulino.
Pelos estatutos, o tesoureiro teria que assinar a documentação liberando o dinheiro. Há menos de um ano a Afepam se transformou em sindicato.
Bloqueio
As contas estavam bloquedas desde dezembro de 1990, quando o governo Collor transformou os funcionários federais regidos pela CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas, a mesma válida para o setor privado) em estatutários –o regime do funcionalismo.
Na época, a Afepam previa assistência jurídica gratuita aos associados, conforme cópia dos estatutos obtida pela Folha. Mesmo assim foram cobrados 10% do valor liberado de cada conta para efeito de honorários advocatícios. O escritório repassou 2% do valor à Afepam, como "doação".
Assis e o então presidente da Associação dos Funcionários da EPM (Afesp), Odair João da Silva, contestam também o fato de que a ação foi movida no Rio de Janeiro. Eles alegam que a a sede da EPM fica em São Paulo e que questões judiciais teriam que ser decididas na cidade. A Afepam chegou a mover ação na capital paulista, mas desistiu com o processo em curso, diante da liberação obitida no Rio.

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