São Paulo, quinta-feira, 6 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estoque de imóveis é o menor em 2 anos

DA REPORTAGEM LOCAL E DA

Proprietários culpam o reajuste semestral, mas governo não tem planos para autorizar aumento trimestral
Sucursal de Brasília
O estoque de imóveis para locação este mês na cidade de São Paulo é o menor desde janeiro de 92, quando entrou em vigor a Lei do Inquilinato. A afirmação é de José Roberto Graiche, presidente da AABIC (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo).
Segundo ele, "o ano começa com oferta de apenas 2.500 a 3.000 imóveis para alugar e a situação pode ficar pior com o aumento da inflação". Segundo a AABIC, o mercado manteve uma oferta média de 3.000 imóveis durante o ano passado, metade do volume registrado em 92 –6.000 imóveis/mês.
Segundo Graiche, os proprietários preferem manter os imóveis fechados a alugá-los com reajustes semestrais. "Com uma inflação de 40% ao mês, o valor do aluguel é totalmente corroído". Para o presidente da AABIC, "o governo precisa reduzir a periodicidade dos reajustes dos aluguéis".
Mas os proprietários que mantêm os imóveis fechados à espera da adoção pelo governo do reajuste trimestral para os aluguéis podem estar perdendo dinheiro. A Folha apurou que não isso não faz parte dos planos do governo.
O Ministério da Fazenda pretende atrelar todos os contratos –inclusive os de aluguel– à URV (Unidade Real de Valor), o indexador único a ser adotado no país na segunda fase do programa econômico.
Para a Alesp (Associação dos Locatários do Estado de São Paulo), a pouca oferta não é provocada pela periodicidade semestral. Segundo o presidente da entidade, Plínio Rangel Pestana, "essa é a forma encontrada pelo lobby dos proprietários para pressionar o governo a alterar a forma de reajuste". Para Pestana, a culpa é do déficit habitacional.
O reajuste trimestral dos aluguéis apenas formalizaria uma realidade que já existe, disse o gerente de vendas da Imobiliária Vera, uma das maiores de Brasília. Os contratos entre particulares garantem a trimestralidade por meio de artifícios que burlam a atual legislação.
Um dos artifícios mais utilizados é o aluguel de um imóvel residencial mediante a assinatura de um contrato comercial, que permite reajustes trimestrais. Outro mecanismo é o "contrato de gaveta". Ou seja, é assinado um contrato que assegura a periodicidade semestral dos reajustes, mas, por fora, proprietário e inquilino acertam um desconto no pagamento do aluguel dos três primeiros meses e um aumento dos valores a partir do quarto mês.
Com a redução da oferta, o valor do aluguel dispara. Em 93, o preço médio dos aluguéis residenciais em São Paulo aumentou 3.515%, 40% acima da inflação do período. Para Graiche, se não houver mudança na política de reajustes, a tendência em 94 é de que o quadro repita.
Na Lopes Consultoria de Imóveis, uma das maiores imobiliárias de São Paulo, o estoque de imóveis para locação residencial não passa de 200. Fernando Angeli, gerente de locação, disse que "a procura está aumentando e os proprietários estão pedindo muito alto para fechar negócio".
Moacir Oliveira da Silva, da Hubert Imóveis, disse que recebe uma média de 80 consultas por dia, mas não tem como atender os clientes.

Texto Anterior: Diminuem juros no mercado futuro
Próximo Texto: Fundos estudam investimento em jornais
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.