São Paulo, quinta-feira, 6 de janeiro de 1994
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Na rota certa

O balanço de atividades da Rota, considerada um dos grupos mais violentos da Polícia Militar de São Paulo, é alentador no que se refere à possibilidade de implantação de uma política de segurança que respeite os direitos humanos. Os PMs daquele agrupamento mataram 36 pessoas no ano passado, nove vezes menos do que em 1992, quando a PM respondeu por 305 mortes. No mesmo período, o número de prisões de procurados pela Justiça e de flagrantes passou de 482 para 731. O balanço sugere que a Rota pode cumprir sua missão com mais eficiência e ao mesmo tempo respeitar o direito inalienável dos acusados a um julgamento.
É lamentável, no entanto, que se tenha esperado a polícia atingir um ponto de selvageria dificilmente superável para que ocorresse essa mudança. Foi apenas em novembro de 1992, um mês depois do massacre dos 111 do Carandiru, que o comando da PM decidiu enfim dar ouvidos às críticas à brutalidade da corporação. Na época, a PM como um todo vinha matando uma pessoa a cada seis horas. Ou talvez mais –esta Folha mostrou que as estatísticas do governo paulista omitem até 50% dos homicídios, alguns deles cometidos por policiais.
O paroxismo de violência motivou a criação da chamada "Rota Light", com o que se reconheceu a mão pesada no gatilho de um batalhão que matava 61 vezes mais do que feria. Desde então, todo policial acusado de matar alguém passou a ser afastado do patrulhamento para se submeter a tratamento psicológico.
Há dois meses, os oficiais da Rota responsáveis pela "operação mãos limpas" de sangue foram substituídos. Espera-se, porém, que a nova filosofia de trabalho permaneça e seja aperfeiçoada. Agora é preciso implantar uma mudança definitiva da mentalidade da tropa, de modo que os policiais militares passem a se orgulhar de mandar o maior número de acusados para os tribunais e não para os cemitérios.

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