São Paulo, quinta-feira, 6 de janeiro de 1994
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Natureza teima em dar as cartas na cidade

Do Bosque do Papa ao Passeio Público, a capital paranaense tem 52 metros quadrados de área verde por habitante
Do enviado especial a Curitiba
O Bosque do Papa, ou Parque Estadual João Paulo 2.º, lembra a colonização polonesa e, por extensão, todas as comunidades que fizeram de Curitiba uma cidade multiétnica. Em meio a uma área de 50 mil metros quadrados, sete casas feitas de troncos de pinheiros à base de encaixes compõem o Memorial da Imigração Polonesa, inaugurado em 1980, mesmo ano da visita do papa, o polonês Karol Woytila, à cidade.
O parque fica a 2 km do centro, entre os bairros Centro Cívico e Ahú, e pode ser atingido pela rua Mateus Leme. Cruza-se o Portal de Lambrequins que homenageia os imigrantes e, de imediato, evoca-se uma história que remonta ao século passado. As casas, junto a carroças e utensílios agrícolas, foram trazidas da Colônia Thomaz Coelho, Muricy e Campina das Pedras, antigas centros de imigração polonesa no Estado. Há até uma estátua do papa, de Maria Helena Chartuni –o problema é que muitos não reconhecem a figura retratada.
O parque é uma das mais sugestivos áreas verdes de uma cidade que se orgulha de preservar 52 metros quadrados por habitante. Ao lado do Bosque do Papa, a Universidade Livre do Meio Ambiente se propõe estudar a questão ecológica e atuar em quatro níveis: promoção de cursos, organização de informações, realização de pesquisas e incentivo à cooperação. Independente dos cursos, é uma atração em si, com sua arquitetura circular montada em frente a uma pedreira desativada.
É possível subir a rampa de madeira que circunda o prédio e chegar a um mirante. A sensação é parecida àquela que teve Jane ao ascender ao território aéreo de Tarzan. Do mirante, pode-se contemplar o lago diante da pedreira ou, mais adiante, o perfil de aço e cimento da cidade. O Parque São Lourenço fica na mesma região, a 4 km do centro. Ali, numa área de 203 mil metros quadrados, uma velha fábrica de cola se transformou no Centro de Atividade. Mais uma boa idéia.
Pela ordem, os parques Regional do Iguaçu, Passaúna, Barigui e Barreirinha são os mais amplos. No primeiro, o maior parque urbano brasileiro, com 8 milhões de metros quadrados, preservam-se os mananciais e cerca de mil animais, em ambientes próximos ao de seu habitat natural –o zoológico é a atração número 1 do parque. O Passaúna, por sua vez, preserva a qualidade da água que abastece a região oeste e sul. Lá, a atração número 1 é o mirante, com sua vista em Cinemascope.
No Parque Barigui prevalece uma certa contradição –gentil, como tudo em Curitiba. De um lado, preserva-se o meio ambiente; de outro, cultua-se a máquina mortífera. O Museu do Automóvel, com relíquias automotivas, divide o espaço com trilhas ecológicos, o vôo de garças e tico-ticos e até a sede da Secretaria do Meio Ambiente. Já o Parque da Barreirinha fica na linha "all" ecologia, com cinco lagos naturais e a sede do Horto Municipal.
O Parque General Iberê de Mattos e os bosques Gutierrez e Reinhard Maack também são opções para passeios verdes. Quem nãohquiser rodar muito e juntar natureza a tradição deve ficar com o Passeio Público, a área de lazer mais antiga da cidade, inaugurada no século passado, no centro. É um mundo em si e, dos portais que copiam aqueles do Cemitério de Cães de Paris ao restaurante PMsquale, um mergulho fundo no jeito de ser de Curitiba. (Federico Mengozzi)

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