São Paulo, sábado, 8 de janeiro de 1994
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Reino Unido quer debate sobre fertilidade

HUMBERTO SACCOMANDI
DE LONDRES

As novas técnicas para tratamento de infertilidade foram colocadas ontem em debate público no Reino Unido. Esse debate vai durar até seis meses e deverá indicar quais terapias serão aprovadas e quais serão proibidas. Os temas mais polêmicos são a gravidez pós-menopausa e o uso de óvulos extraídos de fetos abortados ou de mulheres mortas.
O debate foi lançado pela Autoridade de Embriologia e Fertilização Humana (HFEA), um órgão governamental do Reino Unido. Os especialistas acreditam que a evolução científica nessas áreas está sendo talvez mais veloz do que a capacidade de aceitação da população. Isso estimula um sentimento de rejeição.
"Queremos dar tempo para as pessoas pensarem com a razão, e não emocionalmente. Nós não podemos impor uma solução ao país. Queremos descobrir até que ponto as pessoas apóiam os progressos", disse Colin Campbell, diretor da HFEA.
A gravidez pós-menopausa, técnica desenvolvida pelo especialista italiano Salvatore Antinori, permite que mulheres de mais de 60 anos fiquem grávidas. O uso de óvulos retirados de fetos femininos abortados ou de mulheres mortas está sendo pesquisado no Reino Unido. Essas técnicas podem acabar com o crônico problema de falta de doadoras de óvulos para tratamentos de infertilidade.
A Igreja anglicana já se posicionou contra essas técnicas. Para Richard Harris, bispo de Oxford, qualquer tratamento que envolva óvulos doados é condenável, pois não faz parte da cadeia natural de reprodução de um casal.
Um grande obstáculo levantado é a reação das crianças geradas nessas condições. No caso de doação por uma mulher morta, a mãe biológica da criança teria morrido antes de ela ser concebida. No caso de óvulos retirados de um feto abortado, a mãe biológica não teria nem nascido.
Após os seis meses de consulta popular, o HFEA poderá aprovar ou proibir a prática dessas terapias no país. "Queremos dar a todos a oportunidade de expressar seus pontos de vista antes de decidirmos se a pesquisa ou o tratamento devem prosseguir."
Se, no entanto, as autoridades acharem que o tema é polêmico demais, podem solicitar uma votação no Parlamento.

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