São Paulo, sábado, 8 de janeiro de 1994
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Casuísmo contra preços

O repique inflacionário verificado nas últimas semanas provocou uma reação das autoridades econômicas. A novidade é a entrada em cena de iniciativas de controle direto de preços, especialmente de tarifas públicas. Convocou-se um antigo burocrata do controle de preços para reassumir funções no governo. Iniciou-se uma ofensiva de conversas junto à direção das empresas estatais para impedir, em 1994, a repetição do tarifaço contínuo executado ao longo de 1993.
De fato, alguns preços cruciais sofreram reajustes superiores à inflação em 1993. Parece plausível limitar a partir de agora os aumentos à inflação passada, preservando os ganhos reais, mas evitando novos ônus para as empresas e para a população.
Vale ressaltar, entretanto, que até hoje não foi possível saber com transparência as diretrizes de investimento, as planilhas de custo e as possibilidades de reestruturação financeira do setor produtivo estatal brasileiro.
É impossível e irresponsável fixar uma política tarifária apenas com base na comparação entre reajustes e inflação. Seria como receitar um remédio para um paciente tomando por base não as informações sobre seu estado de saúde atual, mas apenas o quanto ele já tomou de medicamento –um evidente contra-senso.
O novo assessor do ministro FHC, José Milton Dallari, vem reforçar os temores de que mais cedo ou mais tarde poderá o governo acionar formas mais coercitivas e, por isso, arbitrárias de controle de preços. Antes de Dallari viera Celsius Lodder e parece ingenuidade imaginar que a tropa de choque dos fiscalizadores de preços esteja voltando ao governo só para conversar com donos de supermercados.
Faz bem o Executivo em reagir à alta da inflação. Não se deve entretanto perder de vista o fato de que foi o próprio governo que estimulou o repique dos preços, jogando sobre o sistema econômico pressões como a elevação da carga tributária, a alta dos juros e a recuperação persistente das tarifas públicas. Feito o estrago, sistematicamente, tenta-se remendar, casuisticamente.

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