São Paulo, sábado, 8 de janeiro de 1994
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Indecência

MARCELO BERABA

SÃO PAULO – Qual a diferença entre PP, PFL, PTB ou PL? Fora os caciques que variam de um para outro, não há diferenças. Poderíamos acrescentar várias outras siglas partidárias e o resultado final seria o mesmo. Há poucas exceções que comprovam a regra.
Quando decidiu há dias, desastradamente, deixar o PMDB, o ex-presidente José Sarney procurou os quatro partidos citados. Ou seja, tanto fazia para onde iria. Anteontem em São Paulo onze deputados estaduais trocaram o PFL pelo PL. Onze de uma bancada de 13! Foram eleitos pelo PFL, viveram três dos seus quatro anos de mandato no PFL e, às vésperas da eleição, trocaram de partido.
Esse comentário vem a propósito do troca-troca que está acontecendo ao expirar o prazo de filiação partidária para os que pretendem disputar as eleições de outubro. Ao analisar uma lista de cerca de 100 deputados federais que já trocaram de partido, fica visível que não há qualquer coerência. O cara estava no PFL e foi para o PMDB; o outro trocou o PMDB pelo PFL. O do PL foi para o PSDB e o do PSDB para o PTR. Uma confusão total.
Há dois problemas sérios que esses episódios suscitam. O primeiro é o da desmoralização dos partidos. Eles não se diferenciam e não são diferenciados pelos eleitores. Têm caciques (alguns mais de um, com influência em regiões diferentes), não têm programa, não têm um projeto para o país e funcionam apenas às vésperas de eleições ou em função de pressões fisiológicas. Por isso são quase todos iguais. Por isso tanto faz um ou outro.
O segundo problema é o da fidelidade partidária. É impossível se construir partidos fortes (e não há democracia estável sem partidos fortes etc. etc. etc.) sem a fidelidade partidária. A vaga deveria pertencer ao partido, e não ao político. Na reforma capenga feita após o Collorgate, os parlamentares adiaram mais uma vez essa discussão.
É difícil sustentar essa tese num cenário indigente em que os partidos praticamente não existem e em que os eleitores votam em nomes, e não em partidos. Mas sem esse instrumento os partidos não existirão. E vamos continuar a assistir a cada eleição a repetição desses troca-troca obscenos.

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