São Paulo, domingo, 9 de janeiro de 1994
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Cícero promete abrir as contas do sindicato

LUIZ CARLOS DUARTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário-geral do Sindicato dos Condutores Rodoviários do ABCD, Cícero Bezerra da Silva, 44, diz que pretende realizar uma auditoria independente, aberta à imprensa, para apurar as denúncias de que a entidade teria contribuído com dinheiro ou equipamentos na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, em 89.
As denúncias foram formuladas por Oswaldo Cruz Junior, assassinado quinta-feira passada. Cícero pretende assumir a presidência do sindicato nesta semana. A posse é contestada por Clodovil Aparecido de Carvalho, irmão de Cruz e diretor do sindicato.
Cícero falou à Folha, na sexta-feira à tarde, na subsede do sindicato, em São Caetano do Sul. Ele faz parte da diretoria do sindicato desde 1987. Já foi conselheiro fiscal e coordenador da subsede de São Caetano. Assumiu a secretaria-geral em março do ano passado. A seguir, os principais trechos da entrevista.
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Folha - Houve um acordo entre o senhor e Cruz, antes da eleição, para que ele abrisse mão da presidência, passando-lhe a direção do sindicato?
Cícero - Realmente existiu o acordo, feito verbalmente, mas isso não foi a causa do racha da diretoria. Cruz já acumulava alguns cargos, como secretário de Imprensa da CUT estadual e vice-presidente da UIS Transportes (Trade Union International of Transports Workers) –entidade internacional sediada em Budapeste (Hungria), à qual o sindicato dos rodoviários é filiado. Entendíamos que, em função do acúmulo de cargos, ele não poderia exercer a presidência do sindicato.
Folha - Havia prazo para essa mudança?
Cícero - Sim. Seria na primeira reunião da diretoria eleita, no dia 1.º de abril. Sabíamos que nós dois juntos iríamos ganhar a eleição. O compromisso era que ele passasse a presidência. Seria então remanejado para outro cargo, a ser definido, dentro da diretoria. O acerto foi feito na casa dele, antes do processo eleitoral. Tanto que a chapa foi praticamente composta por mim. Dos 33 nomes, indiquei 25.
Folha - O não cumprimento do acordo provocou a acelerou a divisão da diretoria?
Cícero - Não. Quero descaracterizar isso. Esperava que ele assumisse o acordo. Mas ele não falou nada na primeira nem na segunda reunião. Aí os companheiros começaram a cobrar o acordo. Conversei uma vez só com ele sobre o assunto. Ele respondeu que o processo deveria ser feito aos poucos. Então esqueci o acordo. O importante era tocar a luta da categoria.
Folha - Quando surge claramente a ruptura?
Cícero - Quando ele começou a administrar o sindicato de maneira diferente dos mandatos anteriores. Não discutia mais as decisões entre a executiva da diretoria, composta de nove membros. Esse processo começou em junho, depois que ele passou um mês no Estados Unidos e voltou à presidência. Começou a dirigir o sindicato somente com o tesoureiro, o Xexéo, seu irmão Clodovil e alguns funcionários de confiança.
Folha - Como as relações foram se deteriorando?
Cícero - Na reforma do Círculo Social (espécie de sede campestre do sindicato). Fez o projeto sem consultar o restante da diretoria, ao custo de US$ 56 mil. Em seguida, desmantelou o departamento de imprensa e fez um contrato com a Golden Cross, cuja maioria dos 33 membros da diretoria era contrária a alguns pontos do contrato. Esse processo foi evoluindo e terminou com a assembléia de setembro, que decidiu pelo seu afastamento.
Folha - Como o senhor explica as denúncias feitas por Cruz, de que o sindicato patrocinou campanhas de ex-diretores e deu dinheiro para a campanha de Lula em 89?
Cícero - Isso fazia parte de uma saída estratégica dele rumo à Força Sindical. Ele não estava mais em sintonia com a categoria.
Folha - Mas houve contribuição para as campanhas?
Cícero - Meu primeiro passo ao assumir a diretoria será realizar uma auditoria independente, aberta à imprensa, para examinar as contas do sindicato. Vamos ver se há essas provas ou não. Se houve ou não uso da máquina nas campanhas eleitorais. Esta será minha primeira medida.

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