São Paulo, domingo, 9 de janeiro de 1994
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Bancos se prepararam para a estabilidade

NILT0N HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

Bancos se preparam para a estabilidade
Os bancos estão aprendendo a esterilizar sua dependência das receitas inflacionárias ou tentam trabalhar neste sentido. Os bancos de varejo chegaram a ter 60% dos seus ganhos vinculados à inflação em 1989. Hoje, esta participação é de 25%. Os bancos de atacado ou de menor porte, aqueles que não mexem com tanto dinheiro do cidadão comum, também precisam da inflação para garantir 10% de suas receitas.
Segundo Belmiro Castor, presidente do Bamerindus, os bancos de varejo sofrerão mais no processo de adaptação a uma economia estável. "Temos um custo fixo muito alto na comparação com um banco de atacado", afirma. "É por esta razão que investimos tanto em tecnologia. Queremos ficar menos vulneráveis."
O sistema bancário chegou a empregar 900 mil funcionários. Hoje, não passam de 670 mil, o que provocou uma inegável redução dos custos operacionais. O mais curioso é que os bancos enfrentam o aprendizado em um ambiente de inflação elevada. A sociedade já sabe como defender seu dinheiro e deixa cada vez menos recursos parados no banco, o que provocou um impacto imediato na margem de manobra com recursos gratuitos. Para se ter uma idéia, o volume de depósits à vista caiu de US$ 6 bilhões em 89 para US$ 4 bilhões em 93.
O governo contribuiu acabando com o overnight. As empresas, espertas, começaram a negociar com o banco o resultado proveniente da inflação. Rachar esse lucro é atualmente um instrumento de negociação.
Nos bancos atacadistas, o fim da inflação é a alma da estratégia futura de atuação da instituição, como são os casos do Citibank e do Banco de Boston. Segundo Alvaro de Souza, presidente do Citibank, a instituição retira 10% da sua receita com a inflação.
"É um número baixo e que não trará maiores problemas de adaptação", diz Souza. "Aliás, quero trabalhar num ambiente equilibrado, pois nosso objetivo é o de ampliar as atividades no Brasil."
O Citibank tem mais de US$ 250 milhões guardados para investimento no país, na própria atividade. É um dinheiro que está, por enquanto, configurado contabilmente em dívida externa do Brasil. "Acho que uma economia estável traz a perspectiva de negócios de fusões e aquisições no setor bancário", afirma Souza.
O Banco de Boston tem, inclusive, um projeto pronto que ensina como redirecionar os passos da instituição para uma situação de estabilidade. "Vamos ganhar dinheiro com crédito pessoal", conta Henrique Meirelles, presidente do Boston. "Foi assim na Argentina e se repetirá no Brasil."
Hoje, o Boston mantém 10% de suas receitas totais vinculadas à inflação. Não é o caso do Banco Nacional. Como banco de varejo, 20% de suas receitas ainda são produzidas pela inflação. Este percentual chegou a ser de 50% em 1989.
"Por isso é uma falácia afirmar que o banco quebra sem inflação", explica Walter Kuroda, diretor financeiro da instituição. "Não podemos negar que ganhamos com ela, mas numa situação diferente vamos ganhar também, através das operações de crédito e mais prestação de serviços." (NH)

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