São Paulo, domingo, 9 de janeiro de 1994
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Política versus economia

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro Fernando Henrique Cardoso encontra-se em situação delicada. Quase todo o PSDB espera que ele seja candidato a presidente, mas para isto ele precisa deixar o ministério em 2 de abril. Terá, portando, 12 exatas semanas para tocar alguma parte de seu programa, conseguir algum resultado contra a inflação e sair em condições favoráveis –isto é, sem que possa ser acusado de estar covardemente abandonando o barco.
Essa engenharia não é simples, especialmente porque depende da equipe econômica. E ocorre que os principais formuladores do plano de estabilização trabalham com um tempo maior do que aquele oferecido pelas condições políticas. Um programa de estabilização, como diz o economista Francisco Lopes, é como jogo de xadrez: se não tiver uma boa abertura, não conserta mais. E o problema é que, na opinião dos formuladores, 12 semanas podem ser escassas para abrir corretamente o Plano FHC.
Começa que o próprio plano não está pronto. Conhece-se o roteiro (uma dolarização em etapas suaves) e as idéias principais, mas faltam definições essenciais –tais como a medida da Unidade Real de Valor (URV), a sequência e modo de conversão dos principais preços de cruzeiros para URV e o momento certo de decretar a morte do cruzeiro.
Além disso, o quadro econômico precisa estar relativamente estabilizado. Inflação alta, pode. Mas inflação acelerando, isto não pode.
No lado político da equação, FHC parece que vai conseguir a condição prévia que havia colocado como essencial para o plano: um Orçamento sem déficit e sob controle do Ministério da Fazenda. Deve isso à sua habilidade política, mas também à esperteza de adversários. Muitos destes estão imaginando dar a FHC o Orçamento, na certeza de que ele fica obrigado a tocar o plano, que vai dar errado. E eis um candidato a menos.
Esperteza ou não, o fato é que FHC terá seu Orçamento e precisará, politicamente, dar logo uma sequência visível ao plano. Entra logo com a URV? Seus economistas temem que a URV se generalize muito depressa e isto leve a uma superinflação em cruzeiros, que estragaria o plano.
E fica nisso, o lado político pressionando o econômico. Tudo num momento em que qualquer vacilo na condução da política econômica pode causar um desastre para o país e para o candidato. Haja habilidade.

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