São Paulo, domingo, 9 de janeiro de 1994
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São Paulo deve apostar firme na modernidade

ANTONIO KANDIR

São Paulo deve apostar firme na modernidade
A velha imagem de São Paulo como a locomotiva que puxa 20 e tantos vagões vazios, distorcida já na época em que foi criada, não tem mais o menor fundamento.
Desde a última década, em meio à crise econômica e ao processo de desconcentração industrial, São Paulo vem diminuindo sua participação relativa no PIB nacional, o que em si mesmo é positivo e mesmo inevitável. O problema está na incapacidade demonstrada pelo Estado de reorientar-se nesse processo de mudança.
São Paulo firmou-se como pólo principal do desenvolvimento do país no governo Juscelino Kubitschek. O Plano de Metas de JK alavancou um novo ciclo de expansão econômica, dando grande impulso ao setor de bens de consumo duráveis. Por um conjunto de razões, o Estado de São Paulo abrigou o desenvolvimento desse que passou a ser o setor-chave da industrialização do país a partir dos anos 50.
Mesmo sem ter a liderança política na maior parte do período, a liderança econômica de São Paulo permaneceu inconteste até meados dos anos 70. Por 20 anos, o papel central desempenhado por São Paulo foi definido e assegurado pelas políticas de desenvolvimento formuladas pelo governo federal.
A partir de meados dos anos 70, o quadro começou a alterar-se. Somaram-se para tanto um processo natural de desconcentração industrial –potencializado pelos investimentos do 2.º PND e por processos de inovação tecnológica que impulsionaram o agrobusiness em outras regiões do país– e a crise do modelo de desenvolvimento baseado na substituição de importações, que atingiu São Paulo como nenhum outro Estado.
Nesse novo quadro –em que se acirra a competição entre os Estados pela atração de investimentos, sem a mediação do governo federal– chama a atenção a dificuldade das lideranças políticas paulistas de definir com clareza quais sejam hoje os interesses estratégicos e o novo lugar de São Paulo no desenvolvimento nacional.
Antes de tudo, é preciso notar o óbvio: nenhum outro Estado tem tanto interesse na superação da crise como o Estado que mais sofre com ela. As lideranças paulistas não têm extraído as conclusões práticas desse truísmo. São Paulo não apenas se tem mostrado incapaz de liderar uma coalização a favor da estabilização econômica, como, em diversas oportunidades, contribuiu com o desarranjo das finanças públicas estaduais para agravar a situação financeira do conjunto do setor público.
Mas não basta fazer da estabilização um objetivo estratégico, é preciso recuperar a capacidade de planejamento no âmbito estadual, a partir de uma visão clara de quais sejam as vantagens competitivas do Estado para gerar e atrair novos investimentos, num contexto marcado pela abertura econômica e a evolução econômica marcante de outros Estados.
No caso de São Paulo, essas vantagens estão associadas à existência de um ambiente que ainda conserva vantagens para a produção intensa em tecnologia e conhecimento.
Isso se deve, no fundamental, à presença da ponta mais avançada da indústria nacional e transnacional; de institutos de pesquisa aplicada de bom desempenho; de um sistema universitário que, apesar dos pesares, é superior ao do restante do país; de uma mão-de-obra com níveis de qualificação situados acima da média nacional; e de um contingente de consumidores com padrões relativamente elevados de exigência quanto à segurança e qualidade dos produtos.
Para que o Estado extraia proveito do ambiente herdado de seu período áureo, é preciso fazer em São Paulo uma aposta firme na modernidade. Esta requer uma reforma profunda da máquina do governo e novas formas de parceria entre o setor público e a iniciativa privada, sobretudo para dar um grande salto à frente nos campos da educação e do desenvolvimento tecnológico.

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