São Paulo, domingo, 9 de janeiro de 1994
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Herói da Copa SP de 88, Mil pede socorro

MARCELO DAMATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mil, o artilheiro e revelação da Copa São Paulo de Futebol Júnior de 1988, pede socorro. "Chegou a hora de dar a volta por cima. Você precisa me ajudar", pediu ele ao repórter da Folha, numa mistura de ansiedade e esperança.
Depois de despontar na Taça São Paulo pelo Nacional e ser pretendido pelo Corinthians, Waldemir Aparecido Miguel, hoje com 24 anos, acabou vendido pelo Noroeste de Bauru para o Coritiba e daí foi para baixo. Chegou a disputar o Campeonato Carioca de 1993 pelo Olaria, um dos piores times da Primeira Divisão do Rio. Depois disso, ficou três meses sem clube e foi jogar no Fortaleza (CE), último colocado no Grupo C do Campeonato Brasileiro.
"Quem é você? O que quer? É de algum clube?" Com essas perguntas, Mil atendeu o primeiro telefonema da Folha, quarta-feira à noite no apartamento do seu concunhado, o meia Carlos Alberto Dias, ex-seleção brasileira, na Barra da Tijuca. Enquanto não arruma clube, Mil mora com a mulher na casa de Dias, que é dono de seu passe.
Mil pareceu não acreditar que estivesse sendo procurado para dar entrevistas. Chegou a passar o telefone a Dias. Por medo de trote, segundo ele, não falou sempre a verdade ao contar sobre sua vida pela primeira vez. Leia a seguir, os principais trechos da primeira entrevista.
Folha - O que impediu sua ida para o Corinthians?
Mil - O presidente na época pediu um absurdo. Queria o Carlos (goleiro, ex-seleção) e o Wilson Mano (que depois foi vendido para o futebol japonês).
Folha - Depois da Taça São Paulo de 1988, você foi para onde?
Mil - Eu tinha sido emprestado do Noroeste para o Nacional. Depois do título, voltei para Bauru e joguei o Campeonato Paulista. Depois, fui vendido para o Coritiba.
Folha - Por que você foi jogar lá?
Mil - Não sei. Foi o maior erro da minha vida. Se bem que naquela época o Coritiba ainda tinha um grande time.
Folha - Qual a causa da sua saída, no fim de 1991?
Mil - Eu tive uma briga lá.
Folha - Por quê?
Mil - Não quero falar disso (segundo Dias, Mil se revoltou por estar na reserva).
Folha - Onde você jogou desde que saiu do Coritiba, no fim de 1991?
Mil - No América do Rio, em 1992, e no Fortaleza, em 1993.
Folha - Quantos gols fez em cada time?
Mil - Quatro no América, no Canpeonato Carioca de 1992, e seis no Fortaleza, no Campeonato Brasileiro do ano passado.
Folha - Você jogou no Fortaleza como Mil?
Mil - Não, como Waldemir. Estou querendo mudar de nome. É para ver se, assim, minha sorte muda.
Folha - Onde você vai jogar este ano?
Mil - Ainda não sei. Sei que o Marília, o São José e o Fortaleza estão interessados, mas ainda não tem nada definido.
Folha - Como está sua forma?
Mil - Tenho treinado sozinho. Estou quase no meu peso. Uns dois quilos a mais.
Após essa entrevista, a Folha levantou sua participação no Campeonato Brasileiro. Nas fichas técnicas de 13 dos 14 jogos que o Fortaleza disputou, seu nome aparece apenas três vezes e não há nenhum gol anotado para ele. Numa nova entrevista, sexta-feira à noite, também por telefone, ele deu outras respostas:
Folha - Na primeira entrevista, na quarta-feira, você disse que fez seis gols no Campeonato Brasileiro. As fichas de 13 jogos indicam que você jogou três vezes e não fez nenhum gol. Como explica isso?
Mil - Eu menti. Me desculpe, errei. Achei que era um trote. Depois de tantos anos sem ser procurado por ninguém, pensei que era impossível a imprensa voltar. Só me convenci depois que veio a fotógrafa do seu jornal aqui.
Folha - Então como foi sua participação no Fortaleza?
Mil - Comecei lá em outubro, joguei quatro partidas no Brasileiro e fiz um gol.
Folha - Em que jogo você marcou?
Mil - Contra o Vitória. O jogo foi 3 a 1 para nós.
Folha - Qual gol você fez?
Mil - O segundo, eu acho (nesse jogo, disputado no dia 10 de outubro, a ficha não traz o nome de Waldemir e indica um gol do Fortaleza para Bujica e dois para Sérgio).
Folha - Quer dizer que você nem jogou o Campeonato Cearense?
Mil - Isso.
Folha - E onde estava no primeiro semestre?
Mil - No Olaria, na Primeira Divisão do Rio. De julho a setembro, fiquei parado, só treinando.
Folha - Com que nome você jogou no Olaria?
Mil - Walmir.
Folha - Você acha que o seu sucesso chegou rápido demais?
Mil - É isso. Eu achei que daquela hora em diante as coisas iam ser fáceis para mim. E foi aí que eu errei. Agora, chegou a hora de dar a volta por cima.

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