São Paulo, domingo, 9 de janeiro de 1994
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Projeto de canhão imita Júlio Verne

Obra do escritor inspirou lançador de satélites

STEVE CONNOR
DO "THE INDEPENDENT"

Cientistas americanos construíram e testaram um protótipo de supercanhão que pretendem transformar em um lança-foguetes para satélites sem piloto –idéia apresentada pelo escritor Júlio Verne em 1865.
O corpo da versão completa teria três quilômetros de comprimento e um calibre –diâmetro– de 1,7 metro. Ficaria permanentemente entrincheirado dentro de uma montanha para lançar satélites. O preço seria uma fração do custo dos foguetes atuais.
Segundo pesquisadores do projeto do supercanhão em um laboratório de armas norte-americano, o sucesso dos primeiros testes com o protótipo, que atiraram projéteis horizontalmente em uma encosta de colina, reforça a idéia de ir adiante com a segunda e terceira fases do projeto.
O Lawrence Livermore National Laboratory, na Califórnia, disse que ficou demonstrada a possibilidade de se usar canhões de gás, que utilizam hidrogênio explosivo em vez de pólvora, para levar objetos a até 15 mil quilômetros por hora –rápido o bastante para um satélite entrar em órbita em torno da Terra. Mas ainda não está decidido se o laboratório, que já sofre cortes no programa de desenvolvimento de armas, terá fundos para a tecnologia.
O laboratório estima que custará US$ 6,6 bilhões construir um supercanhão que funcione, que seria chamado Lançador Jules Verne –nome do escritor francês de ficção científica que, no livro "Da Terra à Lua", propôs enviar um foguete da Flórida até a Lua usando um gigantesco canhão. "Embora estejamos nos estágios iniciais do projeto, gostaríamos de realizar o que Júlio Verne imaginou", disse John Hunter, cientista do Livermore Laboratory.
O projeto Sharp (sigla em inglês para Protjeto de Pesquisa em Altitudes Superelevadas) do Livermore é uma reminiscência do plano de Saddam Hussein para um supercanhão que lançaria mísseis do Iraque até Israel. De fato, ambas as idéias têm raízes num projeto de pesquisa chamado Harp, elaborado por Canadá e EUA em 1960. O projeto era dirigido pelo cientista canadense Gerald Bull, que ajudou o Iraque a desenvolver a tecnologia de supercanhões antes de ser assassinado em 1990.
As bombas lançadas pelo supercanhões desenvolvidos no projeto Harp não alcançaram a velocidade necessária para entrar em órbita, mas estima-se que viajaram mais de 1.600 quilômetros, com a ajuda de pequenos foguetes.
Para os cientistas, a vantagem do lançador Júlio Verne em relação aos foguetes convencionais é o custo. Geralmente custa cerca de US$ 10 mil lançar um quilograma de material num foguete sem piloto. O custo de lançamento com um supercanhão poderá ser 5% do valor.
O protótipo do canhão tem o cilindro do canhão em ângulo reto em relação ao tubo de aço de alta pressão onde é feita a ignição dos gases explosivos. Entretanto, a recente invenção de dispositivos chamados "particle beds" (leitos para partículas), que esquentam o hidrogênio rapidamente, levou o laboratório a explorar um novo método. Os dispositivos poderiam ser colocados ao longo do tambor do canhão para absorver o choque da explosão.

Tradução de Lise Aron

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