São Paulo, domingo, 9 de janeiro de 1994
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Empresas no Japão pagam para evitar escânlos

TERRY MCCARTHY
DO "THE INDEPENDENT"

Empresas no Japão pagam para evitar escândalos
Um gângster japonês extorquiu da companhia aérea Japan Airlines (JAL), pela morte de sua mulher num acidente em 1985, quase o dobro do que foi dado aos parentes de outras vítimas, segundo o jornal "Asahi", do Japão. O jornal também revelou que o homem abriu uma agência de viagens com a ajuda da JAL e prosperou por receber uma taxa de comissão maior pela venda de passagens da empresa.
A sorte inesperada do gângster começou com o acidente de um Boeing 747 que fazia a rota Tóquio-Osaka, no qual mais de 500 pessoas morreram. A maioria dos parentes das vítimas aceitou a indenização fixada pelas seguradoras da JAL. Mas o gângster foi diretamente à sede da empresa e agrediu vários executivos. Chegou até a quebrar os óculos de um deles. Finalmente recebeu como pagamento US$ 650 mil –bem mais do que os US$ 400 mil pago aos parentes das outras vítimas.
Embora seja tecnicamente uma violação ao códico comercial japonês, as empresas geralmente pagam os "sokaiya" que ameaçam envolver o nome delas em escândalos ou atrapalhar os negócios. Corporações muitas vezes contratam "sokaiyas" –geralmente homens corpulentos, de cabelos curtos, gravatas berrantes– para se assegurar de que as reuniões de acionistas corram suavemente, sem perguntas embaraçosas.
O queixoso da JAL, entretanto, não ficou satisfeito com a sua indenização. Em 1990 voltou à empresa e avisou que estava abrindo uma agência de viagens. Segundo o "Asahi", a empresa lhe ofereceu uma comissão 5% acima da que é normalmente estipulada pela venda de passagens da JAL. Isso o ajudou a criar um capital de giro de US$ 30 milhões no ano passado –apenas três anos depois de abrir seu negócio.
A JAL não fez nenhum comentário sobre a indenização e nega ter oferecido ao gângster taxas de comissão acima do normal. Mas a empresa admite que o ajudou a abrir seu negócio.
Nem todo "sokaiya" sonha tão alto. O menor deles, e talvez uma espécie em extinção, é o "banzai sokaiya", um homem que compra algumas ações de uma empresa e a seguir entra no edifício da empresa gritando "banzai" –o chamado imperial para os combates–, com voz aguda. Quando interrogado sobre o que quer, diz que é um novo acionista e age assim para estimular a produtividade dos trabalhadores. Um envelope cheio de dinheiro geralmente basta para acabar com seu entusiasmo vocal.
Nem todos os "sokaiya" são tão inofensivos. No início dos anos 70, a corporação Chisso, uma companhia de fertilizantes, contratou-os para abafar o caso de envenanamento por mercúrio provocado pela empresa ao despejar resíduos na baía de Minamata, no sudeste do Japão.
A empresa se recusou a aceitar qualquer responsabilidade e contratou gângsteres para participar da reunião de acionistas e evitar qualquer reclamação.
Eles agrediram várias vítimas de Minamata e quase cegaram um fotógrafo que havia registrado os efeitos do mercúrio em animais e seres humanos na região. Desde então, a polícia tenta diminuir as atividades dos "sokaiya" mas, duas décadas depois, eles continuam vivos.

Tradução de Lise Aron

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