São Paulo, segunda-feira, 10 de janeiro de 1994
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Polícia vai investigar finanças de rodoviários

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

A DH (Divisão de Homicídios da Polícia Civil) vai investigar as operações financeiras do Sindicato dos Condutores Rodoviários do ABCD. A informação é do delegado Nélson Silveira Guimarães, 47, diretor da DH. O objetivo da polícia é ter provas do motivo do assassinato do sindicalista Oswaldo Cruz Junior, presidente do sindicato.
Cruz Junior foi morto a tiros na última quinta-feira por um dos diretores do sindicato, José Benedito de Souza, o "Zezé". Hoje à tarde, a polícia deverá ouvir os depoimentos de dois diretores da área financeira do sindicato. Segundo Guimarães, eles deverão responder perguntas sobre a denúncia que provocou o racha na entidade: o desvio de verbas do sindicato para campanhas eleitorais.
"Todas as provas que reunirmos sobre crimes fiscais e eleitorais serão enviadas para a Polícia Federal, no caso de crime fiscal, e para a Delegacia Seccional de Santo André, se forem de crime eleitoral", afirmou Guimarães.
Antes de ouvir os diretores do sindicato, o delegado deverá tomar os depoimentos de um amigo de Cruz Junior (cujo nome não foi revelado) e de um irmão do sindicalista morto, Antônio Carlos Cruz. Todos os depoimentos na DH estão sendo acompanhados pelo promotor Pedro Baracat, que foi designado para o caso.
Na tarde de hoje, a DH poderá comecar as buscas para prender Zezé. Guimarães disse que tentou conversar com membros da família do acusado, mas isso "foi impossível". Ele afirmou que pedirá ao juiz-corregedor de Santo André (ABCD) a prisão temporária por cinco dias de Zezé caso ele não se apresente à polícia até as 12h de hoje.
O delegado disse também que não marcou data para receber de Clodovil Cruz, um dos irmãos do sindicalista morto, documentos sobre o desvio de verbas. Esses documentos seriam notas fiscais que comprovariam que o sindicato fez pagamentos à empresas que prestaram serviços para o PT. "Não marquei data para não por em risco a segurança da testemunha", afirmou.
A questão do desvio de verbas teria sido levantada por Cruz Junior para responder às acusações feitas por seus adversários internos no sindicato de que ele teria enriquecido ilicitamente. Clodovil Cruz teria se comprometido a entregar nesta semana os documentos. Ele pediu à polícia alguns dias de prazo para reuni-los, pois eles estariam nas mãos de várias pessoas.
O delegado disse, ainda, que não descarta a hipótese de que a morte de Cruz Junior tenha um mandante. "Não posso afirmar que houve mandante, mas não descarto essa possibilidade", disse. Guimarães afirmou que pretende ouvir novamente o depoimento do diretor do sindicato José Carlos da Silva, o Carlinhos, que testemunhou o crime.
Para o delegado, o motivo do crime pode ter ligação com questões internas dos rodoviários ou com questões de política externa –as denúnicas feitas por Cruz Junior sobre o desvio de verbas do sindicato para partidos políticos. "Não posso acreditar que o crime aconteceu por causa de uma simples discussão no sindicato."

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