São Paulo, segunda-feira, 10 de janeiro de 1994
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Outra realidade

CIDA SANTOS

A notícia da possível volta ao país dos brasileiros que jogam na Itália movimentou o mundo do vôlei nos últimos dias. O plano, segundo se noticiou, seria do presidente da CBV, Carlos Nuzman, que estaria procurando patrocinadores para a empreitada. Difícil acreditar. Somando-se os salários de Tande e Negrão, por exemplo, chega-se a uma cifra que beira US$ 1,5 milhão e supera o orçamento dos times mais ricos do Brasil. É outra realidade.
Um corte rápido: sábado, 9h da manhã. O time da Telesp pega o ônibus para Barra do Piraí (RJ). A viagem leva cerca de cinco horas. Jogariam contra o Flamengo às 16h. Os atletas chegam na cidade cerca de duas horas antes da partida. Não havia outra alternativa. A equipe não tinha dinheiro para o hotel. Outra cena: sem dinheiro para avião, os jogadores do Chapecó viajam de ônibus. Hospedam-se nos alojamentos cedidos pelos adversários e ganham em média US$ 300 por mês. É a realidade brasileira.
É certo que nos grandes times como Banespa, Palmeiras e Fiat/Minas, a estrutura é outra. É o Primeiro Mundo do vôlei brasileiro. Mas mesmo essa "elite" demonstra preocupação com os rumos do calendário nacional. A prioridade da CBV é a seleção. Em 94, ano de Copa do Mundo de Futebol e dos Mundiais de Vôlei, os clubes já sabem que terão um calendário mais apertado ainda, por isso discute-se até uma redução de investimentos para a próxima temporada.
Pouco antes do início da Liga, foi anunciado um plano de marketing para o torneio. A CBV repassou para duas agências de promoções a tarefa de caçar anunciantes e negociar as transmissões de jogos. O plano incluia a realização de três programas para a TV: um "Quem é Quem" antes do jogo; "Saque o Vôlei", uma série de 78 histórias do esporte; e "Top Vôlei", com os resultados das partidas. A sete rodadas para o fim do returno da Liga, pouca coisa se concretizou. Os programas ainda não foram ao ar. Poucas placas publicitárias foram vendidas e os ginásios estão com pouco público.
Até nos EUA discute-se a criação de um campeonato interno forte. Há mais de dez anos, o país só tem seleção permanente. Foi bicampeão olímpico (84 e 88). Hoje seus principais atletas estão jogando fora do país ou no vôlei de praia. Segundo Doug Beal, técnico campeão olímpico em 84, se os EUA não criarem uma Liga Nacional forte o país não terá mais condições de lutar por medalhas olímpicas após o ano 2000.

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