São Paulo, segunda-feira, 10 de janeiro de 1994
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Jogo estimula o esgrimista a se conhecer mais a fundo

ANTONIO TELLES
ESPECIAL PARA A FOLHA

A esgrima estimula a criatividade de seus praticantes. Sem falar que funciona como um recurso extra da auto-análise: ajuda o esgrimista a se conhecer a fundo.
Por ser um esporte individualista, estimula os processos de introspecção do praticante. Isso acontece porque a esgrima exige abstração, reflexão e decisões constantes em situações de conflito.
O que fazer, como e quando fazer, como reagir frente a cada toque, qual ataque ou defesa deve ser executado são perguntas que não saem da cabeça do esgrimista.
A medida que se aprimora, o esgrimista compreende que estão nele –e não no adversário– os maiores bloqueios que deve superar para atingir níveis mais avançados ou vencer um combate.
O adversário passa a atuar como um referencial que lhe mostra seus pontos fracos. Mais que isso, o adversário é também um "aliado" que procura se desenvolver.
Quando essa relação é bem compreendida, a esgrima é praticada de maneira fluida e harmônica. Não há apego ou dependência de resultados imediatos em treinamentos ou em competições.
O esgrimista que atinge esse estágio fica mais atento às suas próprias reações e desenvolve a sua intuição. Como a sua concentração aumenta, ele percebe, com clareza e tranquilidade, os movimentos e intenções do adversário. Assim, consegue antecipar e elaborar rapidamente a melhor defesa ou ataque para cada situação.
Sua luta torna-se mais criativa e as ações que executa aparecem do "nada", de repente, sem qualquer elaboração racional. O assalto, nesse momento, não é mais um conflito entre dois egos. É um combate que envolve dois esgrimistas que se respeitam e têm um objetivo comum.
A esgrima, ao contrário do que muita gente pensa, não é um simples esporte do qual os participantes têm como meta vencer a qualquer custo. Ela pode transformar-se em um instrumento para desenvolver potenciais pouco estimulados ou mesmo desconhecidos de nós mesmos.

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