São Paulo, segunda-feira, 10 de janeiro de 1994
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Gravadoras que se cuidem: vem aí o CD instantâneo

ANDRÉ FORASTIERI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Começo de ano é hora de fazer previsões. A profecia musical mais interessante desta virada de ano mereceu a capa da revista "Musician" de dezembro. Assinada por Fred Goodman, a reportagem amarra de maneira precisa vários temas fundamentais para a gente: como as novas tecnologias vão mudar a indústria da música.
Para começar: uma das maiores redes de locadoras de vídeo dos EUA, a Blockbuster, anunciou um acordo com a IBM. O objetivo é criar um sistema de produção de CDs nas lojas. Funciona assim: você vai na loja, escolhe que CD quer comprar. A loja mete um CD virgem num aparelhinho lá, e uma central da gravadora transmite via cabo de fibra ótica a música digitalmente.
Daí Goodman infere uma série de possibilidades. A mais divertida: você está no aconchego do seu lar. Vê um clip que te interessou. Aí você coloca um CD virgem num aparelho, um papelzinho especial na sua impressora a laser. Disca para uma central e dá o número e senha do seu cartão de crédito. Em minutos, você tem o CD gravado no seu computador e a capinha impressa (detalhe: a tecnologia para fazer isso tudo já existe. Falta só baixar seu custo). Outras companhias planejam fazer essa transmissão via satélite ou via TV a cabo. A possibilidade mais exótica é o fim das gravadoras. Com um sistema destes funcionando, para que o artista precisa de uma gravadora? A comercialização do produto musical passaria a se dar diretamente entre o criador e o consumidor. A produção e distribuição de CDs em massa desapareceria. A única função que restaria para uma gravadora seria marketing –que poderia ser terceirizado para uma firma de relações públicas (o quê, aliás, já está acontecendo).
Claro que os grandes conglomerados de comunicação não estão gostando nada dessa história. A reação mais comum: investir pesado para criar seus próprios sistemas mirabolantes de distribuição. Mas os artistas ganhariam muito com isso: quatro ou cinco vezes mais por CD vendido do que atualmente.
Se você acha que isso tudo vai demorar séculos para acontecer, será coisa para poucos ou nunca chegará no Brasil, é porque não lembra do tempo em que não existia videocassete e videogame neste país. Foi há só dez anos. E desta vez, o imbroglio é muito maior: afeta a maneira como se produz, se controla, se vende –e se cria– música.

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