São Paulo, segunda-feira, 10 de janeiro de 1994
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Ocidente absorve os vencidos na Guerra Fria

HUMBERTO SACCOMANDI
DE LONDRES

O Ocidente inicia hoje o processo de absorção militar do antigo império soviético, vencido na Guerra Fria. Os líderes dos 16 países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) se reúnem hoje em Bruxelas para oferecer uma parceria aos derrotados países ex-comunistas. Devem discutir ainda a possibilidade de realizar ataques aéreos contra os sérvios na Bósnia.
Os principais pontos da cúpula da Otan são: 1. Parceria para a Paz, uma proposta norte-americana de colaboração com os países do extinto Pacto de Varsóvia; 2. reorganização da estrutura de comando na Otan, com possível criação de uma força européia de intervenção para situações como a que ocorre na Bósnia; 3. combate à proliferação de armas de destruição em massa (nucleares, químicas e biológicas); 4. intervenção na guerra civil iugoslava.
"Não podemos agora deixar que a Cortina de Ferro seja substituída por um véu de indiferença", disse ontem em Bruxelas o presidente dos EUA, Bill Clinton. Em sua primeira viagem como presidente à Europa, Clinton tem a difícil missão de absorver os vencidos na Guerra Fria sem estimular o sentimento nacionalista e antiocidental nesses países, principalmente na Rússia, que liderava o império vencido.
A Parceria para a Paz prevê a cooperação militar (manobras conjuntas, troca de informações etc.) com os países europeus que faziam parte da esfera de influência soviética, mas não oferece a filiação à Otan.
Países como a Polônia temem o poderio militar e a ameaça de expansionismo da Rússia. Caso se tornasse membro efetivo, a Polônia gozaria de proteção garantida contra qualquer ataque. Mas o Ocidente teme que isso seja encarado como uma provocação pelos militares russos.
O presidente Clinton citou o nacionalismo como a principal ameaça à estabilidade e paz na Europa. "De um lado estão os que procuram consolidar os ganhos da liberdade construindo economias livres, democracias abertas e uma cultura cívica tolerante. Pressionando em sentido contrário estão os pretendentes ao sinistro trono da tirania, os militantes nacionalistas e demagogos", disse.
Clinton prometeu manter os 100 mil soldados norte-americanos estacionados na Europa, apesar da pressão nos EUA para eles retornarem. "Vim aqui para declarar e demonstrar que a Europa permanece central para os interesses dos EUA. O centro da nossa segurança permanece na Europa", afirmou o presidente, que procurou desfazer a idéia de divisão entre os aliados com a vitória na Guerra Fria. Para os europeus, os Estados Unidos estão se voltando cada vez mais para a América e a Ásia.

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