São Paulo, terça-feira, 11 de janeiro de 1994
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Irmão de Cruz acusa CUT de desviar verba

RODRIGO VERGARA
DA FOLHA ABCD

Clodovil de Carvalho Cruz, irmão do sindicalista Oswaldo Cruz Júnior, assassinado na última quinta-feira, disse que a CUT teria recebido verba de uma central sindical italiana para criação de um centro de saúde que nunca foi construído. Em entrevista concedida anteontem em sua casa, ele afirmou ainda ter em mãos documentos que comprovam outra irregularidade: o repasse de 5% da verba do Sindicato dos Condutores do ABCD para a CUT por serviços nunca prestados.
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Folha - Que tipo de documentos envolvendo denúncias contra o PT você guarda?
Cruz - Tem fitas gravadas em vídeo e fotos que comprovam a utilização do carro de som do sindicato (dos Condutores do ABCD) nas campanhas eleitorais de 89 e de 92. Existem recibos de valores encaminhados à CUT, à Articulação (sindical), que foi utilizado para campanhas sindicais e eleitorais.
Folha - Os repasses extra-oficiais representam quanto da verba do sindicato?
Cruz - Oficialmente, o sindicato repassa 5% de seu faturamento à central. A verba extra daria outros 5%, ou mais. Existe ainda um outro documento, que eu sei pelo que meu irmão dizia, referente a um acordo firmado por Oswaldo com uma central sindical italiana para a construção do centro de saúde do trabalhador. O dinheiro veio, eu não sei se US$ 20 mil ou US$ 20 milhões, mas o centro não foi construído. Isso foi em 88. Segundo meu irmão, essa verba foi usada para a campanha do Lula, em 89.
Folha - Você acha que o PT e a CUT foram os maiores prejudicados pela morte do seu irmão?
Cruz - Eu acredito que sim. Eles cometeram um erro muito grande em não analisar as atitudes que algumas pessoas lá dentro estavam tomando.
Folha - Como era a participação política e sindical do Zezé?
Cruz - Zero. Não tinha participação política nenhuma, não entendia nada. Ele foi trazido para o sindicato pelo Cícero. Não tinha objetivo. Só estava lá talvez para utilizar os benefícios dos diretores do sindicato, como a ajuda de custo, que foi cortada. Inclusive, o pessoal fez algumas propostas negociando apoio ao Oswaldo em troca da liberação da ajuda de custo.
Folha - O Cícero disse que irá tomar posse no sindicato.
Cruz - Eu o considero um cúmplice, talvez um mandante do assassinato. Foi um crime premeditado. Não foi uma discussão dentro do sindicato que determinou isso aí. Comentava-se que estavam procurando alguém para dar fim no Oswaldo, inclusive oferecendo dinheiro. Ele e o Oswaldo nunca discutiram. O Cícero tinha que arrumar alguém que fizesse o serviço para ele, e nada melhor que o sobrinho, porque amanhã quando ele for preso vai proteger o tio.
Folha - Esses documentos fecham o ciclo de denúncias do Oswaldo?
Cruz - Existem ainda os recibos de verba destinada à TVT, para compra de fitas, aluguel de estúdio. Nós nunca utilizamos estúdio de gravação para nada, mas o sindicato pagou. Eu peço agora que o PT e a CUT tenham dignidade e não procurem enlamerar a imagem do Oswaldo.

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