São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 1994
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Roriz pode ter falsificado assinaturas

ELVIS CESAR BONASSA; WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma análise grafotécnica preliminar feita por técnicos da CPI do Orçamento indica que são falsas as assinaturas usadas para movimentar no Banco Progresso uma conta bancária em nome de Valdivino Vieira Pinheiro, ex-capataz de uma fazenda do governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz. A comissão suspeita que Roriz tenha se utilizado da conta para encobrir parte de sua movimentação bancária, sem que o capataz soubesse.
A análise preliminar foi feita sobre cópias dos documentos, o que não tem validade jurídica. A CPI vai pedir uma nova análise, sobre os documentos originais, feitas por um perito.
Roriz diz que havia depositado dinheiro na conta do capataz para pagar uma operação de compra de gado. Como esta operação não teria se realizado, alega que utilizou o dinheiro para outras finalidades. Esta versão foi desmontada por Valdivino.
Ele disse que nunca assinou nenhum documento nem abriu conta no Banco Progresso. O capataz afirma que sua assinatura foi falsificada, confirmando a suspeita da CPI. Os parlamentares da comissão acreditam que a conta em nome de Valdivino foi usada diretamente para operações do governador. Roriz teria utilizado seu ex-empregado como um operador "laranja".
As assinaturas de Valdivino usadas para sacar cheques no banco Progresso têm um padrão diferente da assinatura da Carteira de Identidade. A letra que assina os cheques aparenta ser de uma pessoa com pouco domínio da escrita –como Valdivino. Mas as letras são muito diferentes. As letras "v" e "p", por exemplo, são incompatíveis, quando se comparam os cheques com a Identidade.
Divino, como é conhecido, disse que está sendo orientado a não dar declarações à imprensa nem falar sem a presença de um advogado para não dificultar a vida do governador. A orientação teria sido de seu patrão, Paulo Boni, 34, proprietário da Agropecuária Agriter Ltda., distante 32 km de Luziânia.
Paulo Boni ameaçou demitir Valdivino, caso ele fique em contato com jornalistas. "A mesma amizade que tenho pelo governador tenho pelo Divino. Ele presta um serviço para mim e tudo isso (as denúncias da CPI) não está deixando ele trabalhar direito", disse Boni à Folha, após negar que tenha conversado com Roriz ou orientado Divino a não falar com a imprensa.
A Folha encontrou Divino andando a cavalo, a 200 metros da sede da Agriter, numa estrada secundária entre um milharal e uma plantação de soja. Ele chegou a dizer que Valdivino não era ele. Ao ser confrontado com uma foto sua, rendeu-se: "O que vocês querem comigo?", perguntou, entre gargalhadas.
Ele acha graça de ser "laranja" de Roriz e acha "muito dinheiro" a soma de US$ 990,2 mil que a CPI encontrou em seu nome. "Acho que ele (Roriz) devia arrumar um 'laranja' maior", disse Divino.

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