São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Alívio, por enquanto

O governo enfim dá sinais de que começa a conseguir entrosamento político suficiente para obter alguma sustentação para o plano de Fernando Henrique Cardoso. Negociações no Congresso e o aparente apoio do PMDB devem garantir pelo menos a aprovação das medidas que constituem a chamada "primeira fase" do plano –a obtenção do Orçamento com déficit zero.
O ministro da Fazenda parece ter conseguido apoio do Congresso para sua proposta orçamentária ao desistir de reter parte das transferências para Estados e municípios. Em troca, deixa de repassar o Imposto de Renda na fonte do funcionalismo público e pára de ressarcir o IPI pago pelos Estados exportadores. Apenas resta saber se, depois do acerto, o Orçamento continuará zerado.
No Legislativo, a situação do plano parece mais alentadora para o governo. Pesquisa Datafolha mostrou que 67% dos dirigentes do PMDB são contrários ao rompimento com o Planalto. Além disso, o partido assumiu o ônus de ter um de seus membros como líder do governo na Câmara. A Bolsa de São Paulo também reagiu positivamente à indicação de Luis Carlos Santos (PMDB-SP) para a liderança –o mercado avaliou que aumentaram as chances de aprovação do plano.
Tal conjuntura favorável, se confirmada, não garante, no entanto, o sucesso das outras medidas da equipe econômica. Antes mesmo da aprovação da "primeira fase", o governo já se vê às voltas com problemas na criação do novo indexador, a URV. A corrida para converter os preços pelo seu nível mais alto, e não pela média, pode provocar uma alta ainda maior da inflação. E pior, o desequilíbrio dos preços relativos em cruzeiros pode ser repassado para URV, gerando inflação na nova "moeda".
A expectativa agora recai sobre como conseguir que o mercado se "comporte" de acordo com os caminhos traçados pelo plano. A equipe econômica diz não admitir a intervenção formal no sistema de preços. Resta saber a qual poção mágica o governo vai recorrer para controlar as remarcações –chame-se ela ameaça de devassa fiscal, redução de alíquotas de importação ou outra qualquer ainda escondida na cartola.

Texto Anterior: Por uma recondução
Próximo Texto: A mentira em alemão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.