São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 1994
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O deságio do dólar

A ninguém ocorreria descrever a atual situação econômica brasileira como tranquila. Mesmo assim, apesar da alta inflacionária e das incertezas em torno da política econômica, o governo tem conseguido conduzir com tranquilidade a política cambial.
Mais que um sucesso temporário, a capacidade do governo de manter o câmbio sob controle é hoje resultado de vários fatores que tendem a continuar. Em primeiro lugar está a acumulação, ainda que cara, de um estoque alto de divisas internacionais.
Além da posição forte do BC, há perspectivas de entrada contínua de recursos externos nos próximos meses. Do lado do comércio exterior, a geração de superávits pela economia brasileira tem sido possível mesmo com a liberalização de importações e o reaquecimento interno. Adicionalmente, já se registra ligeira recuperação na economia americana, fator importante de estímulo às exportações brasileiras.
Do lado do movimento de capitais, o afluxo deve continuar enquanto persistirem os juros elevados. Num momento de baixa das taxas de juros internacionais, as altas taxas praticadas no Brasil colocam o país na rota das aplicações especulativas. Esse mesmo alto nível de juros estimula as empresas brasileiras a captarem recursos no exterior.
O acúmulo de dólares pelo BC, via comércio e investimentos de curto prazo, é reforçado ainda pelas mudanças na composição patrimonial dos agentes econômicos internos. Com a alta dos juros reais, as pessoas preferem vender seus dólares para aplicar no mercado financeiro.
Esse é o principal motivo que explica o deságio. Mas é preciso estar atento ao fato de que a manutenção de elevadas taxas de juros tem impactos inflacionários, com prejuízo para toda a população. Não há como imaginar a economia, no longo prazo, suportando taxas tão elevadas.

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