São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 1994
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Estatais, jornalistas e desonestos

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Numa carta publicada ontem na Folha, um dirigente sindical induz à suspeita de que os jornalistas que revelam as mamatas das estatais estão à serviço clandestino de empresários –um serviço movido pela desonestidade. Essa carta é símbolo de um curioso jogo de bastidores.
A partir de documentos oficiais, os jornais vêm publicando privilégios a funcionários de empresas estatais: empréstimos de oito meses sem juros e correção monetária, gratificação a chefes porque dirigem seu próprio carro, adicionais de periculosidade para gente que trabalha em protegidíssimos gabinetes, generosas doações a fundos de aposentadoria.
Não se viu, até agora, os dirigentes de sindicatos de estatais apresentarem publicamente uma sólida explicação para esses benefícios. Eles preferem fazer pressão de bastidores e, num jogo de cena, se colocam na posição de vítimas –e, se de fato há vítimas no serviço público, são os massacrados professores e agentes de saúde que lidam com a clientela mais marginalizada.
Para jogar uma cortina de fumaça nas revelações, fala-se de um complô envolvendo empresários e jornalistas que, no fundo, visa implantar a privatização. Existem mesmo empresários interessados em comprar as empresas estatais a preço de banana –e tudo deve ser feito para valorizar o patrimônio público.
Mas o ponto central é outro: através das tarifas, o cidadão comum paga os privilégios, a incompetência, os desperdícios. É justamente essa a ótica importante: o cidadão é a vítima.
Setores de "esquerda" dizem que monopólios devem existir para proteger o país e o contribuinte. Mas será que a concorrência não força à concorrência, baixando preços e aumentando a produção? Logo, se o trabalhador tiver mais dinheiro no bolso com o fim de monopólios, um fato ficaria a nítido: quem ganha, hoje, são os privilegiados e não os vulneráveis.
PS – Desonesto não são os jornalistas, mas quem se aproveita dos mais frágeis para ganhar dinheiro.

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