São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 1994
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Brasil: passado e futuro

ROMEU CHAP CHAP

O findar e o alvorecer de um período convencional de tempo nos dá a sensação do término e do começo de uma nova etapa. Estamos no início de um ano novo, ocasião em que nós –brasileiros– nos quedamos a meditar sobre os rumos de nosso futuro político e socioeconômico. Vivemos tempos de expectativa, de perplexidade, de certa angústia, mas também de esperança.
Somos um país vigoroso, cuja potencialidade pode ser medida pela resistência oposta à longa sequência de suas crises.
O país não foi passivo no decorrer de tantos anos. Foi, antes de tudo, paciente. Não deixou de trabalhar e de produzir, apesar da ação perversa de seu renitente processo inflacionário, das mazelas de maus governantes e da atuação de parlamentares indignos. Todavia, temperada em tempos tão difíceis, a consciência nacional passou a sofrer grandes transformações.
Nosso povo parece ter-se enjoado de ser apenas paciente e trabalhador. Passou a sentir a necessidade de forçar a mudança de rumos de sua pátria. As injúrias à ética e à moral, hoje expostas ao nosso nojo e à nossa vergonha, nos induzem à expectativa de saneamento da gestão pública.
As forças produtivas do país passaram a reclamar definições e modernidade dos governos, robustecidas pelo abandono do conceito de dependência governamental. A imprensa e as entidades representativas da sociedade tornaram-se eficazmente vigilantes e ativas na defesa do patrimônio físico e moral da nação.
Sente-se que o Brasil amadurece nos seus sentimentos de amor próprio, na exigência de respeito à sua dignidade, renegando imagens negativas, na procura da fixação definitiva de sua verdadeira identidade. Não há dúvida de que se formou um estado de espírito e um clima de expectativa singular em nosso país, quanto ao que pode aqui ocorrer de positivo a partir de agora.
Nossas autoridades passaram a ser mais exigidas, a prática política se tornou fiscalizada, os procedimentos não recomendáveis estão de quarentena e devem se tornar menos comuns no futuro, a transparência das ações e das omissões governamentais ficou estabelecida. Elevou-se a voz da sociedade.
Está se definindo o contexto apropriado a uma arrancada firme e contínua para a retomada de nosso desenvolvimento. Porém, não se pode esperar resultados milagrosos e de curto prazo.
Temos que aprender com a natureza, onde nada se cria e nada se desenvolve como que por encanto.
Não mais nos podem impingir passes de magia, como a extinção da inflação por decreto e a ridícula pretensão de nos transformarmos num Japão ou numa Suíça da noite para o dia.
Nenhum país alcançou sua prosperidade sem enfrentar os mais árduos desafios com perseverança e sacrifícios. Pretensões políticas não podem priorizar a demagogia ou o supérfluo, nem antecipar resultados inconsistentes, em detrimento do interesse nacional.
O brasileiro nunca foi tão receptivo à necessidade de enfrentar sua realidade como agora. Nossa longa crise parece que apodreceu. Caiu de madura e sedimentou a terra para o crescimento de novos frutos. Sabemos estar entre o término e o começo de eras diferentes, independentemente do que possam significar as datas de nosso calendário.

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