São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 1994 |
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Seleção do século faz justiça ao Divino
ALBERTO HELENA JR.
Nos tempos de Domingos, por aqui, jogava-se ainda no clássico 2-3-5: dois beques, três médios e cinco atacantes. Os asa-médios, ou alfos (abrasileiramento do inglês half) direito e esquerdo, marcavam os pontas, enquanto o centromédio distribuía o jogo no círculo central, apoiado pelos dois meias (insiders), que iam e vinham fazendo a ligação entre defesa e ataque. Lá atrás, um zagueiro (beque de avanço) saía para dar combate ao atacante, enquanto o outro (beque de espera ou stopper) ficava na área para o que der ou vier. O desespero de sua derradeira e solitária função à frente apenas do goleiro forjava sua personalidade e seu estilo: um armário com duas rodas que chutava canelas e bola para onde seu nariz indicasse. Não Domingos, que vi em campo já aposentado, com 40 anos, disputando um sul-americano de veteranos, no Pacaembu, em 53. Mesmo então ainda impressionavam sua imponência e elegância. Contam os que o viram no auge que possuía, sobretudo, um senso de colocação extra-sensorial. E uma frieza imperturbável, que lhe permitia praticar sofisticados atos de cirurgia ao tirar a bola do adversário, no momento de maior agonia de seu time. Não satisfeito, aplicava dois, três e até quatro dribles no avante e saía com a bola submissa aos seus pés, fronte erguida, impávido, enquanto a torcida delirava com mais uma domingada. Portanto, tê-lo ao lado de Luís Pereira, lídimo herdeiro de Domingos, embora sem a mesma elegância, não é nenhum despropósito. Sobretudo, porque Pereira era muito mais fogoso e inquieto, despreendendo-se toda hora para o ataque. Formariam hoje uma bela dupla de área. Duro seria conjugar Zito, Zizinho, Didi e Pelé no mesmo meio-campo, pois mestre Ziza e o príncipe etíope de rancho de Carnaval, na imagem de Nélson Rodrigues, ocupavam o mesmo espaço do campo, com funções rigorosamente iguais. Um dos dois poderia ir para a meia-esquerda, como, aliás, ocorreu no Sul-Americano de 53. Mas, aí, e Pelé? O Rei jamais abriu mão dos seus domínios. Tanto que, certa vez, contra os argentinos, Feola pediu para Pelé abrir na ponta-direita, a fim de escapar da marcação cerrada a que estava submetido no meio. Pelé, encostou na lateral do campo e ostensivamente se omitiu da partida. Além do mais, se perguntarem a Didi e Zizinho se um deles abriria mão de sua escalação para outro, ambos responderiam na hora com a mesma solução: tanto faz quem seja o armador, desde que Canhoteiro entre na ponta-esquerda. Isso, aliás, está documentado nos depoimentos que Zizinho e Didi gravaram para a TV Cultura, que os reproduziu ainda outro dia. Texto Anterior: Juniores são-paulinos se classificam Próximo Texto: No São Paulo, até reserva é artilheiro Índice |
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