São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 1994
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A saúde tem remédio

Tornaram-se tradicionais, quase clichês, as menções à "década perdida" e à indecende precariedade do atendimento à saúde no país. É tudo verdade. A taxa brasileira de mortalidade infantil, por exemplo, é em média cinco a oito vezes maior do que nos países de Primeiro Mundo. Mas os dados do relatório "Situação Mundial da Infância", publicado pela Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) mostra que as tormentas da economia não afundaram totalmente o barco da saúde no país.
O relatório da Unicef compara os dados de 70 países pobres. Os resultados atuais do Brasil superam os de quase todas as outras nações da lista, o que pode ser considerado apenas sofrível se levado em conta que dela fazem parte integrantes do quinto mundo como Angola e Etiópia. Mas não pode ser desconsiderado o fato de que a melhoria relativa em vários indicadores foi significativa e que tal desempenho ocorreu em um contexto de estagnação da renda per capita nacional.
O número de nascimentos assistidos por pessoal de saúde treinado aumentou 95% entre 1983 e 1992. Cresceu 87% o número de pessoas com acesso a água limpa e em 72% a população atendida por saneamento básico entre 1988 e 1991. No entanto, morrem relativamente mais crianças com menos de um ano no Brasil do que no Quênia, Honduras, Egito ou Botsuana.
Tais indicadores nem de longe são motivo de comemoração, ainda mais se considerado o estado de quase colapso dos hospitais públicos e a péssima distribuição de renda nacional. No entanto, o fato de que alguns serviços sanitários e de saúde tenham conseguido prosperar na adversidade é sinal de que o país tem potencial para assegurar uma vida mais civilizada aos seus cidadãos. É preciso apenas mais igualdade e investimento eficiente para que aquele potencial se realize.

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