São Paulo, quarta-feira, 19 de janeiro de 1994
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Indefinição da URV confunde empresários

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

80% dos entrevistados em sondagem de opinião pela consultoria GPC Mix não acreditam no êxito do Plano FHC e na possibilidade de implementar a URV (Unidade Real de Valor). Foram ouvidos 300 empresários de quatro capitais do país (São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Porto Alegre) por telefone.
"Os ônibus vão subir todo dia?", indaga Gil Pacce, diretor da consultoria, para depois acrescentar que "ninguém sabe o que é a URV. Em 23 anos acompanhando a formação de preços, eu nunca vi confusão tão grande. O papel aceita tudo. Mas o fato é que é impossível aplicar a URV".
Um assessor, que preferiu que seu nome não fosse mencionado, disse que levou 60 empresários, especialmente do setor de supermercados, para uma reunião com os técnicos do governo sobre a URV. Segundo ele, os empresários saíram da reunião ainda mais confusos do que quando entraram.
Inflação
Com tanta confusão, só resta uma certeza: a URV ou as expectativas geradas em torno da sua criação ajudaram a empurrar a inflação para cima. A avaliação é consensual entre economistas e governo. Gesner Oliveira, secretário-adjunto de Política Econômica, diz que a incerteza (leia-se Plano FHC) provocou muito nervosismo, "até porque temos um passado de planos fracassados". Ele acredita que o grau de incerteza, a cada dia, irá diminuir.
Um deles, Fernando Montero, da MBA, fez um raciocínio que serve mais como ilustração. Para ele, o componente incerteza pode ser medido, "muito precariamente", pelo comportamento dos preços dos oligopólios, que estão subindo acima da inflação desde outubro. No mês passado, enquanto a inflação medida pela Fipe ficou em 38,52% "a nossa cestinha de oligopólios subiu 41,77%", diz.
Conversão
Juarez Rizzieri, da Fipe, não concorda com o cálculo e diz que os preços dos oligopólios estão dolarizados, "que é o mesmo que urvizados". Para ele, estes setores não estão preocupados com a URV, mas desconfiados com o processo de "urvização". "Ninguém vai sair na frente e 'urvizar' os preços pela média antes de saber o que vai acontecer com os custos. Ninguém sabe como vão ser convertidos os salários, por exemplo."
Rizzieri considera extremamente negativo que o governo não tenha divulgado até hoje como será o cálculo efetivo da URV. O ex-presidente do Banco Central Ibrahim Eris pede urgência na divulgação das regras para impedir que uma série de fantasmas continuem povoando a cabeça de empresários e economistas. Ele cita um: o de que os preços em URV ficariam fixos. Ou seja, seriam congelados. E não é isso o que deve acontecer com um indexador que terá variação diária. Tudo o que a equipe econômica falou sobre a URV, até o momento, é que ela deverá refletir uma variação de preços presente e não do passado.
Para Eris, pior do que a incerteza é a hipótese de que as regras não tenham sido divulgadas porque a equipe econômica não teria conseguido formar com consenso sobre elas. "Seria muito grave", diz.

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