São Paulo, quarta-feira, 19 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Juro de 40.000% ao ano retrai vendas

MARIO ROCHA
EDUARDO BELO

EDUARDO BELO; MARIO ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os juros já atingem 40.000% ao ano nos cartões de crédito (em torno de 65% ao mês), contra uma inflação anualizada de 6.000% (com previsão de 41% em janeiro). A taxa mais baixa do mercado para crédito direto ao consumidor é de 48,5% ao mês (11.400% ao ano). Além da aceleração inflacionária, o aumento dos juros tem um forte componente especulativo: a possível entrada da URV (Unidade Real de Valor), primeiro como indexador, depois como moeda atrelada à variação cambial.
A prova de que há especulação é a sobra de dinheiro no mercado –o que deveria baratear o crédito. Os volumes de poupança cresceram 16% reais (descontada a inflação) no mês passado. Isso representa US$ 2,5 bilhões no saldo das cadernetas. A expansão da base monetária (quantidade de dinheiro em circulação mais depósitos bancários) foi de 84% em dezembro –mais que o dobro da inflação de 38,52% (Fipe).
As vendas a prazo despencaram na primeira quinzena deste mês. As consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) foram 11,4% menores que no mesmo período do ano passado. A queda se dá "em relação a um período que já não foi bom", comenta Marcel Domingo Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo. Sobre dezembro, a redução das consultas atinge 46,2%.
O que cai na verdade são as vendas pelo crediário tradicional. As operações informais de venda a prazo com cheques pré-datados continuam em alta. Em dezembro, responderam por 44,5% do volume de vendas com cheque na cidade de São Paulo, segundo levantamento da empresa Goodcheck.
Embora também contenha expectativa de inflação –e às vezes de juros–, o cheque pré-datado representa algumas "vantagens" para o consumidor, diz Solimeo. Ele não inclui as despesas administrativas do crediário tradicional, o que barateia os preços.
Além disso, os preços já estão mais altos desde que o governo anunciou a criação da URV, afirma o economista José Vieira Dutra Sobrinho. "Há uma grande expectativa em relação à mudança de moeda", diz Marcel Solimeo.
Segundo Dutra, o preço do produto vendido por pré-datado embute pelo menos a expectativa de inflação. Ele aconselha o consumidor a comprar com pré-datado, a não ser que o desconto no preço à vista compense (veja quadro ao lado). Caso não haja desconto compensador à vista, é melhor pagar em duas ou três vezes.
O mesmo vale para os cartões de crédito. Se houver acréscimo no pagamento com cartão ou desconto à vista, convém fazer as contas –e olhar, também, a data de vencimento da fatura.
Crediário
A queda das vendas a prazo tem sido sistemática desde 1989, com a aceleração inflacionária, diz Solimeo. Mesmo tendo crescido 5% em 1993 (sobre o fraco 1992 e depois de três anos consecutivos de queda), a Associação Comercial estima que as consultas ao SPC no ano passado são de 20% a 25% menores que a média do período 1986 a 1988.
Ao contrário, as vendas à vista apresentam crescimento. Nos primeiros 16 dias de janeiro, o volume de consultas ao Telecheque da Associação Comercial cresceu 6,2% em relação a igual período do ano passado. Solimeo adverte que parte desse volume é de cheques pré-datados.
LEIA MAIS
sobre vendas a prazo na pág. 2-2

Texto Anterior: Restaurantes já começam a evitar cartões de crédito
Próximo Texto: Teto de cobre; Cota mantida; Pagando a diferença; Reserva denunciada; Razão política; Outro lado; Nova fase; Símbolo moderno; Lobby do leasing
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.