São Paulo, quarta-feira, 19 de janeiro de 1994
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Indicado por Clinton desiste da Defesa

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O almirante da reserva Bobby Ray Inman, indicado pelo presidente dos EUA, Bill Clinton, para o cargo de secretário da Defesa, renunciou ontem à nomeação. O episódio é mais um embaraço político para Clinton, que tem tido sucessivos problemas com as pessoas que nomeia para cargos de primeiro e segundo escalões. Inman iria suceder Les Aspin, que se demitiu em dezembro.
Logo após a nomeação, revelou-se que Inman tinha deixado de pagar as contribuições à previdência social da faxineira de sua casa. Pelo mesmo motivo, duas mulheres indicadas por Clinton para o posto de secretária da Justiça, Zoe Baird e Kimba Wood, desistiram da nomeação no ano passado.
Mas pelo menos outras 24 pessoas que cometeram a mesma contravenção, continuam no governo, entre elas os secretários do Comércio, Ron Brown, e do Transporte, Federico Pena, e a secretária-assistente da Saúde, Mary Bane.
Em entrevista coletiva em Austin, Texas, sudoeste do país, Inman culpou o que classificou de "McCartismo moderno" por sua decisão. Joseph McCarthy (1908-57) foi um senador dos EUA que comandou na década de 50 uma comissão parlamentar para investigar "atividades antiamericanas" e instalou um clima de caça às bruxas contra a esquerda.
"Já dediquei 30 anos de minha vida ao serviço público e não tenho por que aturar uma campanha de dúvidas contra minha reputação e meu caráter", afirmou Inman. Ele acusou o jornalista William Safire, do jornal "The New York Times" e o líder do Partido Republicano no Senado, Bob Dole, de terem feito acordo para destruir a indicação.
Tanto Dole quanto Safire desmentiram de forma enfática a acusação de Inman. Dole afirmou que "ele provavelmente não é qualificado para ser secretário da Defesa se tem fantasias desse tipo. Eu não trabalho para o jornal. Ele (Inman) tem o direito de dizer o que quiser. Mas provavelmente ele não queria esse emprego".
Inman, que trabalhou para governos republicanos e cuja indicação foi interpretada como mais um sinal do desejo de Clinton governar com apoio bipartidário, também acusou o Partido Republicano de boicotar sua nomeação, embora ele tenha previsto que teria seu nome aprovado.
O senador John McCain, do Partido Republicano, respondeu que nenhum senador de seu partido iria votar contra a nomeação de Inman e comparou as acusações feitas ontem com as que o ex-candidato independente à Presidência, Ross Perot, fez contra George Bush em 1992. Perot afirmou, sem provar, que Bush iria tentar impedir o casamento de sua filha com fotos forjadas. Perot e Inman são amigos há décadas.
Inman, 62, foi vice-diretor da CIA e diretor da Agência de Segurança Nacional. Desde que se reformou, em 1982, vinha trabalhando como consultor de negócios na área da informática.
A notícia da renúncia de Inman pegou a Casa Branca de surpresa. O presidente Clinton aceitou a retirada da indicação, mas se disse "entristecido". Não se tem ainda indícios de quem poderá ser a escolha do presidente para o posto. Mas assessores de Clinton dizem que ele tem pressa para resolver o assunto.
Clinton tem tido relação difícil com os militares desde que assumiu o posto. A nomeação de Inman, um militar respeitado por seus pares, tinha o desejo de superar esses obstáculos.

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