São Paulo, quarta-feira, 19 de janeiro de 1994
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Reagan e Bush omitiram fatos no caso Irã-contras, conclui inquérito

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O promotor independente do caso Irã-contras, Lawrence Walsh, concluiu não haver evidência de que o então presidente Ronald Reagan tenha violado qualquer lei no episódio, mas disse que ele participou de uma operação de acobertamento da verdade liderada pelo seu secretário da Justiça, Edwin Meese, ou ao menos concordou com ela.
Reagan classificou o relatório final do caso, divulgado ontem após sete anos de trabalho de Walsh, "um veículo muito caro para acusações infundadas". O trabalho de Walsh custou US$ 40 milhões. Reagan tentou impedir a publicação do documento na Justiça, mas, depois de derrotado em instâncias inferiores, desistiu de levar o caso à Suprema Corte.
O caso Irã-contras envolveu a venda de armas para o Irã, em 1985, numa tentativa de libertar reféns americanos presos em Teerã, e o envio do dinheiro obtido na transação, em 1986, para os guerrilheiros que combatiam o governo sandinista da Nicarágua. Na época, por determinação do Congresso, os EUA estavam proibidos de negociar com o Irã e de dar ajuda aos contras.
Em 1986, o Departamento da Justiça fez uma investigação do caso e o então secretário Edwin Meese concluiu que nada de irregular havia ocorrido. Walsh classificou o relatório de Meese como uma grande operação de acobertamento da verdade. Em entrevista coletiva ontem em Washington, o promotor independente disse que o Congresso deveria ter votado o impeachment de Reagan após as conclusões da comissão de inquérito sobre o caso.
O relatório divulgado ontem diz também que o então vice-presidente George Bush também não quebrou nenhuma lei, mas, ao contrário do que afirmou muitas vezes, tinha pleno conhecimento de toda a operação e concordava com ela. Bush respondeu que "o relatório não tem novidades".
Como presidente, Bush concedeu perdão presidencial, na véspera do Natal de 1992, a vários envolvidos no escândalo Irã-contras que poderiam ser processsados por Walsh, inclusive o ex-secretário da Defesa Caspar Weinberger. Outros possíveis réus no caso, como o ex-assessor de segurança nacional Oliver North, negociaram acordos com o Congresso pelos quais teriam imunidade em troca de depoimentos.
Walsh afirma a Casa Branca escondeu documentos relevantes para o caso dos investigadores federais e que Reagan e o ex-secretário de Estado George Shultz sonegaram dados ao Congresso.
O documento também acusa o ex-presidente Reagan de ter "desprezo pelas leis" e de ter montado o cenário no qual ações ilegais foram consideradas desejáveis, desde que praticadas em nome da segurança nacional. (CELS)

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