São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 1994
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Leitura atrai poucos parlamentares

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A leitura do relatório final da CPI do Orçamento, que durou oito horas e cinco minutos, foi enfadonha e atraiu a curiosidade de um número reduzido de parlamentares. Ao contrário do que ocorreu na sessão de votação do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, não foi organizada qualquer manifestação popular em frente ao Congresso para acompanhar a sessão.
O presidente da CPI, senador Jarbas Passarinho (PPR-PA), chegou ao auditório Petrônio Portella, do Senado Federal, para presidir a leitura e votação do relatório sobre os acusados no escândalo do Orçamento, ao som de "As Quatro Estações", de Vivaldi. Mas a animação durou pouco. Assim que o deputado Roberto Magalhães (PFL- PE), relator, iniciou a leitura do documento, os parlamentares foram, aos poucos, deixando o plenário. "Não há nada mais hipnótico", resumiu o senador José Paulo Bisol (PSB-RS).
O relatório começou a ser lido às 9h30. Três horas depois, havia menos de dez parlamentares no auditório de quase 500 lugares. O movimento ficou por conta dos jornalistas. O marasmo das primeiras horas da sessão foi quebrado ao meio-dia, com a entrada do deputado Carlos Benevides (PMDB-CE), cujo nome integrava a lista de parlamentares indicados para cassação pelo relator.
Ele levava documentos apontando erros nos cálculos de Magalhães sobre sua movimentação bancária, mas perdeu tempo. "Aqui, não há mais qualquer possibilidade de defesa. Ele tem a Comissão de Constituição e Justiça e o plenário da Câmara dos Deputados para apresentar suas razões", afirmou Passarinho. O deputado acusou o relator de ter uma "idéia preconcebida" sobre sua situação há 40 dias e de tomar uma "decisão política" ao acusá-lo de falta de decoro.
Um panfleto acusando a CPI de terminar em "pizza" foi distribuído pelos deputados Ernesto Gradella (PSTU-SP) e Maria Luíza Fontenele (sem partido-CE). Havia um clima de insatisfação quase geral, com a ausência de quatro parlamentares na lista dos indicados para cassação: os deputados José Luiz Maia, José Carlos Vasconcelos e José Carlos Aleluia e o senador Saldanha Derzi.
Perambulavam entre os integrantes da CPI dois parlamentares contra os quais o relator não encontrou provas suficientes, mas sugeriu que as investigações continuassem : os deputados Pedro Irujo (PMDB-BA) e Jorge Tadeu Mudalen (PMDB-SP). Irujo disse que era sua "obrigação" estar presente, já que ficou 90 dias "no meio do tiroteio". O deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), que chorou durante todo o seu depoimento à CPI, também acompanhou a leitura, nervoso. Acabou inocentado por Magalhães.
O clima monótono da leitura foi quebrado na etapa final quando o senador Jarbas Passarinho discutiu com o deputado Anníbal Teixeira (PTB-MG). A leitura não chegou a ser interrompida, terminando às 17h35.

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