São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo Ieltsin perde assessores estrangeiros

JAIME SPITZCOVSKY
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE MOSCOU

Dois dos principais conselheiros econômicos do presidente Boris Ieltsin renunciaram ontem, em protesto contra o novo governo, que é dominado pelos "reformistas moderados". O norte-americano Jeffrey Sachs e o sueco Anders Aslund alimentavam o Kremlin com teorias ocidentais para a "terapia de choque" e defendiam a transição acelerada ao capitalismo.
Na quinta-feira, Ieltsin anunciou o novo gabinete, que marcou o fim de dois anos de domínio dos "reformistas radicais". Liderados pelo primeiro-ministro Viktor Tchernomirdin, os "moderados" querem afrouxar o combate à inflação para ajudar com subsídios as grandes indústrias, que enfrentam dificuldades para adaptar-se à economia de mercado.
Jeffrey Sachs rejeita essa fórmula, que, para ele, vai trazer hiperinflação. O economista norte-americano ficou famoso ao assessorar o combate à inflação na Bolívia e na Polônia. Na Rússia, Sachs se aliou ao então ministro da Economia e "reformista radical" Iegor Gaidar para arquitetar a "terapia de choque".
"A transferência mecânica de métodos econômicos ocidentais para o solo russo trouxe mais prejuízos do que vantagens", criticou Tchernomirdin. Mas, numa tentativa de amenizar o conflito com os países que fornecem ajuda financeira, o primeiro-ministro disse que seu programa de governo carrega "apenas elementos da economia de mercado ocidental".
Aplicada desde 1992, a "terapia de choque" defendida por Sachs diminuiu a inflação e eliminou o desabastecimento, mas trouxe desemprego e queda na produção industrial e permitiu avanço da oposição, formada por ultranacionalistas e comunistas. Ontem, na primeira reunião do novo governo, Tchernomirdin pediu aos ministros que "cooperem com o Parlamento", no qual os opositores de Ieltsin são maioria.
Viktor Iliushin, principal assessor do presidente, reconheceu que agora Ieltsin terá que manobrar para adaptar-se às mudanças políticas. "Mas ele permanece firme em suas convicções", afirmou ele ao comentar a renúncia do "reformista" Boris Fiodorov do Ministério das Finanças, na quinta-feira.
Em Washington, o presidente norte-americano, Bill Clinton, comentou que a era das reformas econômicas não está terminada na Rússia. Os EUA têm dúvidas quanto à capacidade do novo governo de reduzir a inflação.
O volume de ajuda ocidental que a Rússia conseguirá receber "estará diretamente relacionado ao tipo de reformas que eles decidirem encaminhar", disse Clinton.

Texto Anterior: Clinton vai depor ao investigador especial
Próximo Texto: Senado francês veta fertilização para mulheres pós-menopausa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.