São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 1994
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A CPI e pizza

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – A CPI apresentou ontem relatório final exibindo nítidas falhas –existe a sólida sensação de que há peixes escapando da rede. Fossem as investigações menos apressadas, a qualidade dos resultados, obviamente, seria melhor. Mas podemos dizer que acabou em pizza?
Existe ainda um longo caminho até que a opinião pública possa comemorar a cassação de quem desonrou seu mandato, envolvendo-se na roubalheira com dinheiro público. Nessa reta final, cresceram as suspeitas de lobbies para aliviar parlamentares –lobbies que tendem a prosperar até a votação decisiva no plenário, enfiando uma pizza goela abaixo do cidadão.
No balanço de erros e acertos, a CPI sai por cima. Nunca se expôs com tanta profundidade uma rede de corrupção no Congresso. Lembre–se-se que, logo no início dos trabalhos, muita gente previa que as investigação não daria em nada, esbarrando no espírito de corpo. Previsão furada.
Nessa primeira etapa, o Congresso mostrou que quando consegue investigar e responder à cobrança da opinião pública –sai ganhando a democracia. E sairá ganhando ainda mais se as CPIs que estão aprovadas decolarem do papel –em especial a CPI das empreiteiras, uma continuação óbvia do escândalo do Orçamento.
O grande saldo positivo é o educativo –pela primeira vez em toda a nossa história, popularizou-se o interesse sobre como é feito e o que significa o orçamento no cotidiano dos indivíduos. E o orçamento é onde se firma o pacto da cidadania.
PS – A propósito de cidadania, merece destaque o movimento anunciado ontem por três reitores de universidades paulistas, apoiado pelo governador Luiz Antonio Fleury, lançando Betinho para o Prêmio Nobel da Paz. Há milhares de documentos e estudos mostrando que nenhuma guerra consegue matar tantas pessoas como a desnutrição. Betinho não é apenas um símbolo no Brasil, mas da luta no Terceiro Mundo contra sua maior tragédia: a fome. Do momento em que você começou a ler a coluna até esta última linha, morreram no mundo pelo menos 30 crianças. A reunião de todos os conflitos armados não chegou minimamente perto desse desastre.

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