São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
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Plano FHC pode travar a economia

DA REDAÇÃO

Incertezas têm rondado o Plano FHC desde o seu anúncio, em 7 dezembro. É um plano de estabilização, o que não combina com crescimento. Se não vai fazer a economia retroceder, também não vai ajudar a repetir este ano os mesmos níveis de aceleração de 93, quando a estimativa é de que o PIB –o Produto Interno Bruto, medida da riqueza nacional– tenha crescido 4,5%. O plano podsentar uma trava na economia e as previsões são de que o incremento do PIB fique entre 2% e 3%. É neste intervalo que também transitam as expectativas do ministro Fernando Henrique Cardoso.
Dois componentes básicos do plano são recessivos: o ajuste fiscal e a austeridade monetária (leia-se juros altos). As duas etapas subsequentes –criação do novo indexador, a URV (Unidade Real de Valor), e da nova moeda– são uma incógnita. O espírito do ajuste fiscal é o governo arrecadar mais –tirando dinheiro da economia privada, através de impostos– e gastar menos. A política de juros altos inibe a tomada de empréstimos para investimentos e acelera a transferência para o mercado financeiro de recursos que seriam destinados ao consumo e à produção.
Parte disso já se concretizou em janeiro, especialmente com a corrida de dinheiro para a poupança. Nada menos de US$ 2,1 bilhões –quase o que o governo pretende arrecadar este ano com o aumento do Imposto de Renda das pessoas físicas– voaram das contas correntes, do dólar e também da contenção de despesas para as cadernetas. Tudo por conta da alta dos juros, que beneficiou também outras aplicações, como os fundos e os CDBs. Mas na contrapartida, houve uma continuação inesperada do fôlego do consumo (leia nesta página
Para Carlos Eduardo Uchôa Fagundes, vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a recomposição de estoques em alguns setores, especialmente de eletroeletrônica, aponta que as empresas mais capitalizadas estão se precavendo porque acreditam no aumento da demanda. Segundo ele, "há consenso entre alguns empresários de que o plano do ministro Fernando Henrique Cardoso (Fazenda) vai contribuir para a queda da inflação e de preços. A URV também traz confiança aos agentes econômicos. Assim, os empresários do varejo querem ter produto para não perder venda."
Ricardo Braga, diretor financeiro do Citibank, afirma que o curto prazo traz uma perspectiva de dificuldades a serem enfrentadas, pois o plano tem na sua execução o ponto fundamental, o elemento que vai definir pelo seu sucesso. "Uma coisa é certo: essa equipe não vai repetir o erro de conceder um abono de 8% nos salários", diz, lembrando a bolha de consumo produzida pelo Plano Cruzado em 1986.

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