São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ingredientes cortam o "pique"

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Se o plano de estabilização for inteiramente aplicado durante este ano, não poderá haver crescimento. Todos os ingredientes do plano restringem a atividade econômica e cortam o pique do ano passado.
Uma das principais características do plano é a austeridade fiscal. O governo comprará menos e os funcionários, pela previsão orçamentária, não terão ganho salarial.
A segunda onda de especulação virá com a conversão dos preços para URV. Todo mundo vai querer começar a vida na nova moeda com preços folgados. É sempre mais fácil, depois da conversão, conceder descontos do que aumentar.
E só tem um jeito eficiente para o governo conter esse tipo de especulação: tornar as compras desinteressantes para o consumidor. E isso se faz aumentando os juros, de modo que o consumidor, de um lado, considere melhor poupar do que gastar e, de outro, fuja dos crediários.
Na outra ponta, o governo vai tentar imepedir ganhos salariais. Já anunciou que o salário mínimo e os salários do funcionalismo serão convertidos em URV pela média, de tal modo que tenham valor real igual ao do ano passado. E o governo vai estimular o setor privado a também fazer conversões pela média.
Ninguém acredita que o governo conseguirá impor um arrocho salarial. Mas se considera possível que impeça ganhos.
A regra geral indica que as pessoas, quando estão com dinheiro no bolso e confiança na economia, saem gastando. E os vendedores tratam de aumentar preço. O exemplo é o do Plano Cruzado de 1986. Assim, se o propósito é combater a inflação, o governo precisa manter a economia em banho-maria.
Não há segurança nos meios econômicos sobre a capacidade do governo de aplicar o Plano FHC neste ano. Há dúvidas por causa das eleições presidenciais, incluída aí a possível candidatura do próprio ministro Fernando Henrique Cardoso. Mas se acredita, entre empresários, executivos e consultores, que alguma será feita.
E assim estão os agentes econômicos: parados, à espera da URV.

Texto Anterior: Plano FHC pode travar a economia
Próximo Texto: Economistas divergem sobre efeitos diretos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.