São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
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Moradores de condomínio no Rio "enfrentam" favela com muro

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Moradores de um condomínio de luxo na Gávea (zona sul) estão reivindicando junto à Prefeitura do Rio a reforma e manutenção de um muro de 600 metros de comprimento que impediu a expansão da favela da Rocinha sobre uma área verde na região.
O muro foi construído por esses moradores ao longo dos anos 80. Além de uma barreira para a expansão da favela, o muro serve de limite para o parque municipal do Penhasco Dois Irmãos, criado há um ano pela prefeitura, por pressão dos próprios moradores. "Vínhamos mantendo o muro até 91. Agora que a área virou parque, achamos justo que a prefeitura assuma a sua manutenção", diz o advogado Luiz Fernando Gabaglia Penna, 48. O muro está com vários buracos, e Penna teme que a favela se expanda sobre a vegetação de Mata Atlântica existente no local.
Com dois metros e meio de altura, o muro levou nove anos para ser totalmente concluído (em 89). Penna convenceu vizinhos a bancarem a construção do muro –cerca de US$ 50 mil, no total– ao perceber, em 79, que a Rocinha estava começando a se expandir pela vertente do morro Dois Irmãos, que dá para o condomínio. Duas mulas foram utilizadas para levar o material morro acima.
O muro começa numa cota a 153 metros do nível do mar, terminando a 320 metros. Ao longo da construção, Penna se reuniu várias vezes com os sucessivos chefes do tráfico de drogas da Rocinha, para pedir permissão. "Era para explicar que a intenção era resguardar a floresta, que não havia nada de pessoal contra eles."
Permissão "oficial"
Segundo o advogado, os traficantes não só deram a permissão, mas prometeram que os favelados respeitariam a barreira de tijolos. Mas agora, com o adensamento da favela junto ao muro, ele teme que moradores da Rocinha acabem por invadir a área. A Rocinha continua crescendo.
Em outra ponta, a Amasco (Associação de Moradores de São Conrado) luta há três anos para impedir sua expansão sobre a floresta da Tijuca, numa área batizada pelos invasores de Vila Verde. Dezenas de famílias já construíram suas casas e, como mantiveram inúmeras árvores, afirmam que estão defendendo o meio ambiente.
A pedido da Amasco, a promotora Patrícia Silveira da Rosa, da equipe de Proteção do Meio Ambiente da Procuradoria Geral de Justiça do Rio, promoveu ação civil pública contra a prefeitura, para obrigá-la a expulsar os invasores e reflorestar a área. Segundo Rosa, compete ao município proteger e fiscalizar o solo urbano. A ação ainda não foi julgada.

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