São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
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Caça ao ouro deixa cidade em MG sob risco de ruir

AMAURY RIBEIRO JR.

AMAURY RIBEIRO JR
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOÃO REY (MG)

A utilização de dinamites em garimpos de ouro subterrâneos está ameaçando o patrimônio histórico do centro de São João del Rey (a 260 km de Belo Horizonte). A corrida ao ouro criou uma cidade subterrrânea e ameaça a vida dos moradores dos bairros do Centro e São João.
"Até os cachorros estão se escondendo dos tremores provocados pelas dinamites que racharam várias casas", disse a aposentada Conceição Salomão, 52, ao mostrar as rachaduras de sua casa no bairro São João. Segundo o proprietário da Mineradora Nossa Senhora do Carmo, Lúcio Caraza, existem cerca de mil garimpeiros na região.
"Só existem duas empresas cadastradas. A maior parte dos garimpeiros é clandestina. Os rapeiros (garimpeiros clandestinos) explodem dinamites sem nenhum controle." Caraza negou o uso de dinamites em sua mineradora. "Por enquanto só estamos retirando o cascalho quebrado pelos garimpeiros do século passado, mas futuramente teremos de usar explosivos", disse.
A corrida do ouro teve início há oito meses, quando empresas mineradoras e garimpeiros começaram a usar dinamites para aprofundar as betas (túneis cavados por garimpeiros do século 18). A reportagem da Folha desceu na última quinta-feira –por meio de uma escada– numa beta de 120 metros de profundidade.
As betas são basicamente um poço dividido em vários andares (galerias). As galerias se alastram por diversos pontos e se assemelham a ruas. As galerias de betas diferentes (cavadas em diversos pontos) se encontram, formando um cidade subterrânea com vários andares que se interligam entre si.
"A cidade subterrânea se assemelha a um queijo, com vários buracos verticais (betas) e horizontais (galerias e ruas) interligados", descreve o garimpeiro Hélio Ribeiro, que acompanhou a reportagem numa das betas. Os garimpeiros cavam galerias para retirar o cascalho, onde pode ser encontrado o ouro. O cascalho é retirado por intermédio de guinchos. As explosões formam rios subterrâneos.
"Ninguém sabe ao certo em que direção vão dar essas galerias. É um universo perigoso, que pode causar uma tragédia. É necessário uma vistoria urgente por uma equipe de geólogos", disse o sargento do Corpo de Bombeiros de Barbacena Antônio Calsavara. Ele acompanhou uma equipe de soldados que desceu na semana passada a uma das betas, atendendo solicitação de um dos moradores do bairro São João.
A equipe de bombeiros constatou o uso de dinamites e explosivos por uma das mineradoras. "Os próprios donos das mineradores dizem que estão utilizando explosivos", disse o sargento.

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