São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Guru quer rediscutir papel do homem

DA REPORTAGEM LOCAL

Espécie de guru para homens e mulheres em busca de novas maneiras de se relacionar, o psiquiatra Luiz Cuschnir divide o comando das finanças com a mulher e participa das tarefas da casa. Ele é casado com a psicóloga Sumi Haro, 41, e tem um casal de filhos.
Há 20 anos Cuschnir dirige terapias em grupo. Diz que só nos grupos exclusivamente masculinos encontrou um "compartilhar" tão grande. "Encontram-se reservados e calados e dois dias depois estão falando francamente", diz.
"Gênero quer dizer masculino e feminino", diz o psiquiatra. "É mais amplo do que ser homem ou mulher." Para discutir o papel de cada um, os trabalhos são feitos em grupos separados, às vezes em finais de semana no campo ou em terapias de um ou dois meses.
Segundo Cuschnir, os "grupos de gênero" estão sendo cada vez mais procurados por homens que "se deram conta de que perderam a primazia do poder e não detêm mais o papel de único provedor econômico da família."
O grupo também é procurado por homens que não se sentem bem com sua sensibilidade diante dos outros homens. É entre esse "homem sensível" e o modelo machão que estaria o "homem do futuro" buscado nas terapias de Cuschnir.
Uma forma de moldar esse homem seria colocá-lo em contato com outros homens, para que possa falar com a liberdade que falava nos grupos de meninos da adolescência. Segundo o psiquiatra, os homens na vida adulta perdem a intimidade das amizades.
"Eles se encontram muito hipocritamente, contando vantagens profissionais ou sexuais. Não sabem mais viver amizades. Quando começam a compartilhar esses sentimentos no grupo, sentem um grande alívio."
Quando esse reencontro ocorre na natureza, é ainda mais marcante, diz o psiquiatra. "É muito emocionante os homens se encontrarem à noite, no bosque. No escuro total, eles vão voltando a situações que viveram na infância."
O pediatra e psicoterapeuta Celso Azevedo Ausgusto, 33, participou de um "gender group" há um ano. Depois da passagem pelo grupo, ele diz que se sente em paz com ele e com os outros homens. (Aureliano Biancarelli)

Texto Anterior: Crise do Judiciário vista pelos juízes
Próximo Texto: Mulheres são as que mais incentivam, diz empresário
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.