São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
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Senna teme politicagem durante a temporada

FLAVIO GOMES
ENVIADO ESPECIAL AO ESTORIL

Foram cinco dias de testes, quatro deles das 9h às 17h30 com uma mera horinha de intervalo para o almoço. A primeira semana de Ayrton Senna na Williams não poderia ter sido mais trabalhosa. O saldo: fez o melhor tempo entre os oito pilotos de cinco equipes que treinaram, 1min12s49, na sexta-feira –apenas um segundo pior do que a pole do ano passado no Estoril. Isso com o carro do ano passado, desfalcado da eletrônica abolida pela FIA. Nada disso, porém, fez aflorar o otimismo do piloto. Ele acha que não é o favorito para ganhar o Mundial de F-1 deste ano, que começa dia 27 de março em Interlagos.
No total, de quinta-feira até ontem, Senna completou 175 voltas no circuito português, dois GPs e meio. Teve poucos problemas mecânicos, testou o novo motor Renault RS6, um sistema de direção hidráulica e mandou cortar um pedaço do chassi para não esbarrar a mão no cockpit. "O pessoal da equipe até brincou comigo, dizendo que nunca a Williams tinha feito isso para ninguém. Esse interesse em fazer o que for necessário pelo nosso objetivo me deixou muito contente", disse Ayrton.
Os bons resultados, porém, mereceram uma comemoração apenas contida do brasileiro. "A idéia de que eu sou o favorito é até compreensível, mas nunca concordei com ela e não mudei de opinião depois dos testes. Acho que o campeonato vai ser mais competitivo do que todo mundo espera e também político, de certa forma. Só espero que isso não tire o gosto esportivo da competição, de tão pouco fair play", falou.
Desde o final do ano passado, Ayrton vem colocando a Ferrari como maior adversária na luta pelo título mundial. Ele considera o projetista John Barnard, que fez o novo carro da equipe italiana, o melhor em atividade. Além disso, acha que o fim da eletrônica favorece a Ferrari, que nunca lidou bem com os equipamentos agora proibidos pela FIA.
O ritmo de trabalho de Senna assustou os técnicos de sua nova equipe. A cada parada no box, Senna se reunia por cerca de 15 minutos com o engenheiro David Brown. Indicava as modificações que queria e os mecânicos as executavam. "Eu fiz o trabalho que tinha que ser feito, porque nosso tempo é muito curto até a estréia", justificou o piloto. "Foi uma semana muito proveitosa, importante na minha carreira e fundamental para a temporada de 94."
Senna volta hoje ao Brasil e até amanhã decide com a equipe se terá que testar mais uma vez o carro velho da Williams. A princípio, ele só deve guiar de novo no final de fevereiro, quando o modelo FW16 estiver pronto.
Os tempos de ontem: 1) A.Senna (BRA/Williams), 1min12s50 (42 voltas); 2) E.Irvine (IRL/Jordan), 1min12s96 (41); 3) D.Coulthard (ESC/Williams), 1min13s47 (39); 4) A.Zanardi (ITA/Lotus), 1min14s66 (37); 5) J.Herbert (ING/Lotus), 1min15s65 (24).

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