São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
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Judeus ortodoxos encomendam teste

FERNANDA GODOY
DE NOVA YORK

Uma fração da comunidade de judeus ortodoxos de Nova York está usando testes genéticos para evitar casamentos capazes de gerar filhos com determinadas doenças. O programa, chamado Dor Yeshorim (A Geração dos Corretos, em hebraico), foi fundado há dez anos; oito mil jovens foram testados no ano passado.
O banco de dados do Dor Yeshorim acumula testes de 45 mil judeus em todo o mundo. "Usamos números em vez de nomes, para garantir o anonimato", disse à Folha Howard Katzenstein, integrante do escritório nova-iorquino (há outro em Israel) do programa.
Adolescentes são abordados em escolas e sinagogas e aconselhados a fazer um exame de sangue para detectar genes associados a três doenças: fibrose cística, Tay-Sachs e síndrome de Gaucher. A pessoa testada não é informada de seu resultado.
Quando estiver pensando em se casar –os judeus ortodoxos tendem a se relacionar com membros da comunidade–, a pessoa liga para o Dor Yeshorim. Fornecidos os números e as datas de nascimento dos parceiros, é feito um prognóstico sobre o risco de os filhos terem uma das doenças. "Pedimos que nos procurem nas etapas iniciais do relacionamento", disse Katzenstein. "Não queremos que elas esperem até estarem muito envolvidas ou de casamento marcado."
Embora os testes não sejam obrigatórios, é fácil imaginar a pressão a que estão sujeitos membros de uma comunidade tão fechada. "A restrição à liberdade de reprodução é mais uma entre muitas em uma comunidade como essa. E, embora seja um processo extremamente difícil, a única opção pode ser deixar o grupo", disse a especialista em ética médica Ruth Macklin, da Escola de Medicina Albert Einstein, em Nova York.
Para Arthur Kaplan, diretor do Centro de Ética Biomédica da Universidade de Minnesota, o uso de testes genéticos para fins eugênicos será estendido a grupos maiores e, até, a países inteiros. "O que estamos vendo agora nessa comunidade estará acontecendo em escala mundial nos próximos anos", disse Kaplan.
O exemplo mais citado é a China. "Os chineses têm sido muito agressivos sobre o uso que podem fazer da genética", afirmou Kaplan. A descoberta de genes ligados ao câncer ou diabetes pode levar o controle mesmo a sociedades como a americana, diz ele. "A pressão dos governos para a redução da incidência de doenças de tratamento caro pode ser enorme", diz Kaplan.

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