São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
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Livro revela vida sexual de políticos da Itália

PATRICIA CLOUGH
THE INDEPENDENT

Escândalos sexuais fizeram os governos de John Major e Bill Clinton tremerem. Agora chegou a hora de as façanhas amorosas –reais ou imaginárias– do velho regime italiano virem à tona. Entre um ex-ministro que afirma ter conquistado tantas mulheres quanto são os países que integram a Unesco, e um ex-primeiro ministro de quem mais de 200 mulheres dizem terem sido amantes, "Il Letto e il Potere" (A cama e o poder) está divertindo os italianos com a história da Primeira República, vista desde entre os lençóis.
É a mesma impressão que se tem ao ler "Tangentopolis e os Quarenta Mil Ladrões", uma história em quadrinhos que relata uma mal-disfarçada versão do início das investigações do escândalo de corrupção Tangentopoli (Subornópolis), que acabaram por derrubar a velha classe política italiana. A história começa com uma cena envolvendo sexo anal e um diamante, passa por orgias, trocas de amantes, sexo oral, corrupção, os primeiros inquéritos chefiados pelo magistrado Tonino Di Scoglio (Toninho Rocha –facilmente reconhecível como o investigador Antonio Di Pietro, ou pedra) e cobre as investigações em massa, um suicídio e a previsão de crimes ainda piores por serem revelados.
O personagem principal é Marietto Cattedrale, nome que lembra o de Mario Chiesa, o primeiro acusado no Tangentopoli. Outra presença constante é o Líder Máximo, cuja semelhança com o ex-premiê socialista Bettino Craxi não é mera coincidência. Um prólogo faz votos que os personagens sejam recompensados com "15 anos de trabalhos forçados cada um... e um retumbante chute no traseiro por parte do povo italiano".
Os primeiros 50 mil exemplares de "Tangentopolis" foram vendidos em dois dias e o editor, Renzo Barbieri, já providenciou uma segunda edição de 100 mil cópias. Segundo Barbieri, as cenas retratadas, embora sejam espantosas, não são tão fantasiosas quanto se poderia imaginar. "Os funcionários de certos hotéis já me contaram sobre orgias e coisas do gênero. Acredito que pelo menos uma parte disso seja verdade."
Já Filippo Ceccarelli, jornalista do "La Stampa", documentou cuidadosamente seu livro "A cama e o poder", que ele chama de uma história sexual da Primeira República italiana. Muitos políticos italianos tiveram vidas sexuais interessantes porém relativamente discretas, mas Bettino Craxi e outros políticos socialistas cercavam-se abertamente de modelos, atrizes e garotas de programa. Uma delas, Moana Pozzi, escreveu um livro no qual atribuiu notas a seus diversos amantes. A nota máxima foi dada a um que Pozzi, com discrição atípica, não identificou por nome, mas que ela disse ser "alto, largo, usa óculos e é líder de um partido no... governo?"
A atriz Sandra Milo não faz as mesmas reservas. Em seu próprio livro, ela descreveu sua primeira noite com Craxi e as festas que eram dadas no hotel de Roma onde ele vivia. "Era um ir e vir constante de mulheres, de jovens estrelas. Conheci cerca de 200 garotas que afirmavam ser amantes do senhor Craxi. Em Roma, ser amante dele era símbolo de status."
A diferença entre a Itália e os EUA ou a Grã-Bretanha é que, na Itália, coisas desse tipo não contam pontos contra o político. Os italianos gostariam que seu dirigentes fossem honestos, mas não esperam que eles sejam santos.
Tradução de Clara Allain

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