São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lucros dos bancos crescem até 6.000 %

REGINA CARDEAL
DA REDAÇÃO

Lucros dos bancos crescem até 6.000%
US$ 2,2 bilhões: lucro recorde do maior grupo bancário dos EUA em 1993. O aumento de mais de 200% sobre o lucro de 1992 anunciado pelo Citicorp foi só um dos balanços supreendentes divulgados na semana passada por grandes bancos norte-americanos. Na lista, Chase Manhattan –lucro, também recorde, de quase US$ 1 bilhão– e J.P. Morgan –lucro de US$ 1,72 bilhão.
Nos EUA, os ganhos, depois de pelo menos três anos difíceis, foram saudados com euforia. O mercado britânico, de seu lado, reagiu com a sobriedade de costume aos primeiros resultados de seus grandes bancos em 1993. O aumento de 2.000% nos lucros do Royal Bank of Scotland e de 6.000% para o TSB Group deu margem à questão: onde os bancos vão empregar (e fazer render) um montante de capital que parece excessivo?
A pergunta reflete a preocupação com o futuro de um setor que quase afundou junto com o sistema financeiro mundial poucos anos atrás. O crise veio à tona em 1987, quando as perdas nos empréstimos à América Latina se tornaram fato consumado. Nos EUA, o colapso passou perto em 1990, quando os bancos tiveram de encarar os estragos do endividado setor imobiliário. Os bancos foram obrigados a fazer reservas para cobrir dívidas que provavelmente não seriam pagas.
Para se reerguer, o setor partiu para reformulações drásticas. Pesquisa da Arthur Andersen com bancos em 21 países europeus mostrou as reformas já feitas e indicou como será o banco do futuro. Nos próximos cinco a sete anos, diz o estudo feito em 1992 e 1993, a tendência do banco por telefone e das máquinas automáticas vai continuar dominando. A má notícia: quando se afila a silhueta bancária, 250 mil empregos podem desaparecer só na Europa.
Outra tendência consolidada, segundo a Andersen: continuará o declínio da mais típica atividade bancária, a de captar depósitos para fazer empréstimos. Escaldados pelos arriscados empréstimos ao Terceiro Mundo e ao mercado imobiliário, os bancos buscarão retorno no aumento das tarifas, na oferta mais ampla de serviços à clientela e no uso de instrumentos como as "swaps" (troca de indexadores).
Além das mudanças empreendidas, dois fatores ajudaram no desempenho dos bancos no ano passado: o nível excepcionalmente baixo dos juros e o terremoto no mercado de câmbio europeu. Os bancos aproveitaram para ampliar a margem entre os juros que pagam e os que cobram. Além dos ganhos diretos com as transações de câmbio na Europa, os bancos viram seus negócios aumentarem significativamente pelos clientes que buscavam refúgio para a variação descontrolada das moedas.
O respeitável "Financial Times" aproveita o cenário rosado dos lucros em alta para lembrar que, ao contrário do que se possa pensar, banco muito capitalizado é motivo de inquietação para os acionistas.
Como é permitido aos bancos emprestarem mais do que seu capital, capital excessivo aumenta os riscos de empréstimos também excessivos. Os bancos, diz o jornal, podem ignorar a fraca demanda e entrar em concorrência desenfreada para fazer empréstimos, com a consequente queda das margens de lucro e das tarifas. Prudente, o "FT" alerta aos bancos que dinheiro demais também pode ser problema.

Texto Anterior: Livro revela vida sexual de políticos da Itália
Próximo Texto: Veja a importância dos blocos econômicos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.