São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
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Blocos podem ser caminho da globalização

GILSON SCHWARTZ
DE EQUIPE DE ARTICULISTAS

Blocos mundiais podem ser caminho da globalização
Até os anos 80 ainda havia quem pregasse o advento de uma Nova Ordem Mundial. Mas a variedade de blocos, acordos, uniões e tratados que continuam proliferando dá uma idéia menos de ordem e mais de colcha de retalhos.
Para um dos mais conceituados estudiosos do comércio mundial, o economista Paul Krugman, do MIT (Massachusetts Institute of Technology), até mesmo o conceito de blocos deve ser abandonado. Foi uma espécie de "teoria de estimação" dos economistas na década passada que deve sair de moda já em 1994. Krugman acha que toda a discurseira sobre blocos serviu mais a políticos e a uma sub-indústria acadêmica. As críticas saíram na publicação "The World in 1994", da revista britânica "The Economist".
A tendência econômica hoje predominante é a globalização. Várias das iniciativas regionais surgiram mais como reação a um sistema falido e emperrado (o Gatt, criado no pós-guerra), ou seja, como defesas contra o desmoronamento das velhas estruturas. A globalização, entretanto, é o futuro. Cada vez mais gente acredita que os vários subsistemas regionais não passam de uma fase intermediária rumo a esse futuro.
E haja subsistemas. Hoje convivem na economia mundial tanto o próprio Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) –em reformas depois de perder a velha aura de guardião indiscutível do multilateralismo– quanto acordos de livre comércio (como o Nafta, Acordo Norte-americano de Livre Comércio) ou subsistemas mais fechados (como a União Européia). O Mercosul pretende ser uma organização de outro tipo (união aduaneira). É mais fácil chamar tudo isso de blocos, mas na realidade trata-se de uma sobreposição de sistemas incongruentes, com instituições de alcance variado.
Pode-se também olhar o mundo através de estatísticas, ao invés de se fixar nas instituições e organismos oficiais. Dividindo-se o mundo em três pólos –norte-americano, europeu e asiático–, o comércio total (exportações e importações) chega a cerca de US$ 5,5 trilhões. O comércio interno a esses blocos é de US$ 2,7 trilhões, ou seja, quase a metade do total.
Além dos arranjos institucionais e das estatísticas nacionais, a imagem do mundo vem sendo redesenhada também pelas multinacionais. A ação dessas empresas provavelmente será mais importante, nos próximos anos, do que os acordos assinados por políticos. Só as múltis norte-americanas já dominam mais de 10% de todo o comércio mundial.
A conjunção dos impulsos regionalistas e das tendências à globalização deverá gerar, no próximo milênio, uma economia distante dos dois grandes mitos dos últimos anos, a ordem liberal e o retorno do protecionismo. Será uma colcha de retalhos. Resta saber quantos conseguirão colocar-se sob sua cobertura.

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