São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para FHC, real perdeu valor

ANDRÉA DANTAS; GEORGE ALONSO
DA REDAÇÃO

Bom humor e descontração marcaram a festa com que FHC e 300 convidados, a maioria profissionais da campanha, comemoraram anteontem a vitória do tucano no bar Bourbon Street, em São Paulo, de propriedade de Luís Fernando Mascaro e Edgar Radesca.
O presidente eleito chegou ao bar, localizado na zona sul da cidade, às 22h. As duas ruas de acesso ao local da festa foram interditadas pela Polícia Militar.
Mais solto, já por volta da uma da manhã, FHC provou que é do tipo que ``perde o amigo, mas não a piada". Quando o telão mostrava um dos comerciais da campanha, sobre o valor da moeda de R$ 1 –``...com que você pode comprar meia dúzias de ovos, ou 250 gramas de margarina ou farinha...", ele comentou, rindo: ``Podia."
Vestindo calça cinza, paletó azul-marinho, camisa branca e gravata, FHC comportou-se como um elegante noivo em sua festa de casamento.
Passeou pelas mesas, recebeu diversos parabéns, apertos de mão e tapinhas nas costas. Distribuiu sorrisos para amigos íntimos e colaboradores próximos e distantes.

Intimada cidadã
No primeiro grupo estavam o filósofo José Arthur Giannotti; o coordenador de seu programa de governo, Paulo Renato Souza; o economista Luiz Carlos Bresser Pereira (que disse que não aceitaria ser ministro) e o empresário Sergio Motta, coordenador da campanha.
No segundo, uma das integrantes da equipe de TV, que recebeu os devidos agradecimentos do futuro presidente por seu trabalho. ``De nada, senador. Mas agora olhe, lá, heim... O país está nas suas mãos". Ela preferiu não se identificar para a reportagem da Folha, mas disse estar aliviada ``com esta intimada de cidadã."
Assuntos como economia, ministérios e segundos turnos foram deixados de lado das conversas presidenciais. Ele preferiu falar sobre o Pantanal –``que lugar maravilhoso"–, sobre a festa –``que animação"–, sobre a perseguição da imprensa –``que coisa cansativa".
Com a apresentadora Silvia Poppovic, FHC falou sobre o ``exagero" de jornalistas que vão acompanhá-lo em sua viagem a Moscou. ``Oitenta é demais", comentou.

Ruth Cardoso
Ao saber que o tucano viajaria sem seguranças, apenas com sua mulher, Ruth Cardoso, uma das convidadas comentou que ela, avessa à imprensa, valia mais do que muitos guarda-costas.
``Mas vai acabar de mau humor", lembrou Thereza Pinheiro, uma das responsáveis pelo programa de TV. ``Azar o meu", sintetizou com uma risada o presidente eleito.
Sem seus tradicionais óculos professorais, a futura primeira-dama parecia mais jovem e não foi reconhecida de imediato por alguns convidados.
Logo que chegou, cumprimentou com um abraço, um beijo e um ``parabéns!" o aniversariante Jorge da Cunha Lima, com quem conversou bastante.
Vestia uma elegante roupa preta, com colar e brinco. Preferiu conversar sentada com os mais amigos a passear pelos salões com o marido.
Dois seguranças guardavam os dois principais banheiros da casa (masculino e feminino), no andar térreo. ``Estão reservados para o presidente, senadores e assessores próximos", informou um deles.
Até Ruth Cardoso precisou se identificar para passar pela guarda.

Jantar e show
Na hora do jantar, não foi fácil para FHC conseguir terminar seu prato de salada verde com queijo roquefort e rondelle com molho branco. Foi interrompido pelo menos nove vezes enquanto comia.
Os pedidos para fotos foram muitos, o que levou Geraldo Walter, um dos publicitários da campanha, a aconselhá-lo a ``ir se acostumando". FHC disse que não ligava.
Os tucanos assistiram aos melhores clips da campanha, até o início do show da cantora norte-americana Betty Shirley, às 23h45 . Alguns arriscaram a pista de dança, ao som de ``Cry me a River" e ``Sweet Home Chicago".
Munida de uma pequena câmera Kodak descartável, Betty Shirley pediu para tirar fotos com FHC. ``É a primeira vez que canto para um presidente", disse.
Em inglês, o tucano perguntou de onde ela era. E disse que não conhecia sua cidade, Nova Orleans. ``You must go, be my guest" (``Você precisa ir, seja meu convidado"), respondeu a cantora.
Para ela, o futuro presidente do Brasil ``precisa cuidar de seu povo, fazê-lo feliz com empregos e educação."
A animação cresceu na mesma proporção do consumo do colorido drinque tucano (vodca, curaçao, suco de laranja e de manga, verde, azul e amarelo), do uísque e da cerveja. Mas não houve exageros –só um bêbado podia ser notado.

Real vale menos
Depois da apresentação de um comportado ``making off" da campanha (a melhor fita, segundo alguns, tem como trilha sonora ``The Blue Brothers" e anda trancada a sete chaves), os convidados entoaram o hino da campanha de mãos levantadas.
Aconteceram então os aplausos que faltaram na entrada do presidente eleito.
O prêmio ``pé-de-valsa" da noite ficou por conta de Sérgio Motta e sua mulher, Wilma. Ecléticos, dançaram jazz, disco, pagode, Jorge Ben Jor e até ``Requebra", do Olodum.
O primeiro a chegar, por volta das 20h30, até as 2h30 da manhã, um feliz Sergio Motta, espécie de anfitrião da noite, ainda sacolejava na pista.

Colaborou GEORGE ALONSO, da Reportagem Local

Texto Anterior: Tucanos não abrem mão da área econômica
Próximo Texto: Disputa na Câmara pode implodir maioria
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.