São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994 |
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Novo horário atormenta madrugador e dorminhoco
PATRICIA DECIA
São os vespertinos e matutinos típicos, pessoas determinadas por seu relógio biológico –uma parte do cérebro que comanda os ciclos do corpo– a acordar muito cedo ou muito tarde. Para eles, uma semana não será suficiente para a adaptação ao novo horário, como deve acontecer com os outros 90% da população, classificados como indiferentes. Essa parcela, que tem seu pico de atividade em horários não convencionais, é reconhecida por médicos e pesquisadores. O boêmio que fica acordado toda a madrugada e o atleta que levanta às 5h para fazer cooper são estereótipos ultrapassados. ``Não se sabe o motivo, mas as pessoas têm ritmos biológicos diferentes, não se pode condenar. É como discriminar alguém por ser muito baixo." A constatação é do professor Luiz Menna-Barreto, 48, coordenador do Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos da USP (Universidade de São Paulo). O grupo, fundado em 81, estuda cronobiologia, ciência surgida na década de 60 que trata da organização temporal dos seres vivos, incluindo o ciclo vigília/sono. Segundo o professor, o sono muda com a idade. Bebês dormem várias vezes ao dia, crianças tendem a acordar cedo e dormir cedo. Com a chegada da puberdade, a maioria se torna vespertina e, na velhice, volta a madrugar. Mas Menna-Barreto ressalta: em todos essas faixas há os mais radicais, que são ativos principalmente à noite ou pela manhã. É pensando nesse grupo que o professor se posiciona radicalmente contra o horário de verão. ``Uma campanha teria efeitos mais benéficos e não prejudicaria ninguém." O diagnóstico é considerado ``exagerado" pelo médico Sérgio Tufik, 46, chefe do departamento de psicobiologia da Escola Paulista de Medicina. Tufik, que pesquisa o sono e seus distúrbios, acredita que a mudança de uma hora é menos prejudicial do que, por exemplo, manter um horário durante a semana e rompê-lo brutalmente no sábado. ``O organismo programa as funções de acordo com os hábitos do indivíduo. Mudando os horários ele dribla o próprio corpo, o que acarreta aumento de estresse", diz. Segundo ele, para a maioria das pessoas, em três dias o horário de verão será imperceptível, mas o médico concorda que uma parte da população vai sofrer mais tempo. Tufik explica que o aumento de agressividade, muito comum agora, é causado pela privação de sono. Isso também ocorre nos casos de trabalhadores em turnos, pessoas que viajam muito ou não têm horários regulares para dormir. Texto Anterior: Acusados negam as denúncias Próximo Texto: Estudante mantém atividades à noite Índice |
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