São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994
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Jogadoras malham para levantar o vôlei brasileiro

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

A jogadora padrão da seleção brasileira de vôlei entra na quadra sexta-feira, na estréia no Campeonato Mundial, transformada, em comparação ao que era em março.
Parada, sem ganhar impulso correndo, ela salta 68,7 cm, evolução de precisos 50% em relação aos 45,8 cm de sete meses atrás.
Está mais forte. Sua massa muscular ganhou 3,8 kg. A porcentagem de gordura do corpo caiu de 14,3% para 10,9%.
Não é nenhuma campeã de fisiculturismo, versão feminina de um Arnold Schwarzenegger, o brutamontes que virou astro hollywoodiano, mas não se sentirá uma fracote diante de cubanas, russas e ucranianas.
A jogadora padrão é uma média do desenvolvimento físico das 12 atletas inscritas pelo Brasil para o campeonato.
Elas tentam, menos de um mês depois do fracasso da equipe masculina no Mundial da Grécia, recolocar o país no topo do vôlei internacional.
A seleção aposta numa virada tática graças à ousadia do técnico Bernardo Rezende e a uma revolução nos métodos de preparação física que tornou viável a mudança na maneira de jogar.
A seleção passa a atacar com quatro jogadoras, uma a mais do que os 15 adversários do Mundial. Para isso, precisa de atletas que batam na bola acima dos 2,24 m do alto da rede.
Mais: elas têm de saltar a uma distância de no mínimo 3 m da rede, vindas de uma das três posições da parte de trás da quadra.
Quando a jogadora está numa daquelas posições, a regra do vôlei proíbe que ela se aproxime da rede para golpear a bola de cima para baixo, no sentido da quadra adversária.
Por isso, sempre uma ou duas jogadoras têm de estar aptas a atacar saltando de trás da linha dos 3 metros. Fácil?
Em novembro do ano passado, quando o carioca Bernardinho substituiu o mineiro Wadson Lima como treinador, a tarefa parecia difícil. Faltava força às brasileiras para o pulo.
Pior: vaidosas, elas viam com desconfiança qualquer exercício que pudesse tornar musculosos seus corpos.
Consideradas as mais belas jogadoras nas competições internacionais, invariavelmente donas das menores sungas, elas tinham dificuldades contra a força de seleções européias.
Resultado: até o ano passado, o Brasil nunca conquistara um título internacional de vôlei feminino.
Este ano ganhou cinco torneios dos seis que disputou, inclusive o Grand Prix –a mais importante competição do vôlei planetário depois da Olimpíada e do Campeonato Mundial.
O Grand Prix, em setembro, consagrou os experimentos táticos de Bernardinho e o programa de preparação física, concentrado em exercícios de musculação, desenvolvido pelo mestre em educação física José Inácio Sales Neto.
O preparador físico tinha pronta a receita para dar força às jogadoras. A fórmula foi desenvolvida num grupo de estudo do movimento humano do Centro de Educação Física da Universidade Santa Úrsula (Rio).
O trabalho intensivo de musculação começou em março com uma overdose diária de exercícios.
Em três ou quatro sessões semanais, as jogadoras aumentavam a resistência correndo ou pedalando em bicicleta ergométrica.
Até aí, nenhuma grande novidade no que se costuma fazer no país. A grande mudança foi na intensidade do programa.
``O costume é fazer três séries de 10 a 15 repetições de cada movimento na musculação", diz José Inácio. ``As jogadoras passaram a fazer entre 9 e 11 séries. Só paravam quando, exaustas, não conseguiam fazer mais nenhuma repetição."
Foi o rompimento com o passado. ``Havia um cultura na preparação física das mulheres no vôlei para não haver agressividade no treinamento", conta José Inácio.
Agora, ele busca o que chama de ``força máxima" na musculação. É essa força um dos grandes trunfos com que o Brasil conta para, a partir de sexta-feira contra a Romênia, chegar pela primeira vez ao pódio de um Campeonato Mundial.
Nas 11 edições anteriores, o melhor resultado do país foi o quinto lugar conquistado em 1960, quando jogou em casa. ``Dessa vez, o mínimo que queremos é chegar entre os três primeiros. O mínimo", diz Bernardinho.

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